domingo, 9 de junho de 2013

O funk é feminista?

Sou cachorra chapa quente (...) Sou uma gatinha manhosa/Vou fazer tu derramar/O seu líquido do amor/Ai, que tesão, vou te arranhar”. A letra é de Cachorra Chapa Quente, da funkeira carioca Tati Quebra-Barraco. Ela, Deise da Injeção e As Danadinhas são algumas das representantes, no funk, da demanda por liberdade sexual, que traz junto ao direito ao sexo e ao prazer as bandeiras de igualdade, exatamente como as feministas fizeram na década de 1970. Quando cantam suas letras consideradas obscenas, estão reivindicando mais do que prazer na cama e denunciando as opressões às quais foram historicamente submetidas. De quebra, rompem com os padrões de beleza: nenhuma delas é loura ou magra, e nem por isso deixam de exibir o corpo, dançar ou se apresentar como mulheres desejáveis. Sem nenhum respaldo teórico – e, diga-se de passagem, já sem precisar da teoria, na medida em que a prática da igualdade entre os sexos tem se espalhado na sociedade de forma saudável e natural –, as meninas do funk sabem na pele o que é preconceito: são pobres, negras e faveladas. O que não falta, portanto, é estigma.

Parte das militantes do movimento feminista, porém, prefere não reconhecer o funk e manifestações culturais menos formais como marca da entrada do feminismo na sociedade. No funk, há a crítica de que as músicas apresentam as mulheres como meros objetos sexuais (um lugar de subordinação do qual as feministas lutaram para nos retirar). Mas é preciso admitir os apelos de liberdade sexual da juventude como uma consequência positiva do feminismo.

Valorizar essa liberdade é também um gesto político. Para isso, devemos pensar no feminismo não como um clube exclusivo ao qual se tem acesso por tortuosos caminhos institucionais (quem vende o título deste clube? Onde entregam a carteirinha?), mas como aquilo que o inspirou desde o começo: ser um movimento plural, sem hierarquia, dogmas, controle ou estruturas centralizadas, que não defende uma verdade, mas está em permanente construção de uma agenda em evolução. Assim, devemos mais é comemorar que a pauta da liberdade sexual tenha chegado ao funk – no que se espera que seja um permanente processo de expansão desde as primeiras reivindicações do movimento feminista.

Tudo começou no século 18, quando Olimpes de Gouges, na França, e Mary Wollstonecraft, na Inglaterra, passaram a lutar por direitos civis para as mulheres. A partir da atuação das inglesas, o voto feminino foi conquistado no século 19. Num salto histórico, chegamos aos anos 1950/1960/1970 e à chamada “segunda onda do movimento feminista”. Foi quando entraram em pauta exigências de liberdade em todos os campos da vida social. As bandeiras de luta chegam, então, a temas até aquele período restritos à vida privada, como o direito ao prazer sexual. São campanhas que se expandiram do direito ao orgasmo ao questionamento do papel de dona de casa, e que culminaram nas bandeiras de liberdade individual, hoje cantadas também pelos grupos femininos do funk.


* Carla Rodrigues é jornalista, professora e doutora em Filosofia (PUC-Rio).
http://super.abril.com.br/cultura/funk-feminista-684751.shtml 

 Não dá para negar que estamos falando (e pensando) sobre  um tema polêmico: o funk e o feminismo.  

Veja mais em: http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2013/04/guest-post-o-funk-e-o-feminismo.html - GUEST POST: O FUNK E O FEMINISMO

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Projeto pretende legalizar prostituição para evitar abusos durante a Copa



Proposta polêmica é do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) (Alexandra Martins/Agencia Camara )Nas cidades que receberão jogos da Copa do Mundo, muitos trabalhadores já se preparam para receber a horda de turistas sedentos por diversão e possuidora de carteiras recheadas de dólares e euros, entre eles os profissionais do sexo da Rua Guaicurus, no Centro de Belo Horizonte. A Associação de Prostitutas de Minas Gerais (Aprosmig), por exemplo, se organiza para oferecer cursos de inglês e de francês para suas associadas a partir de fevereiro. “A demanda vai aumentar muito na Copa, por isso vários profissionais do sexo de outros estados virão para cá. Temos que fazer uma Copa consciente e aproveitar o momento para fazer um debate sobre os direitos das prostitutas”, afirma a presidente da entidade, Cida Vieira. Ela acredita que a oportunidade será muito importante para jogar luz sobre a questão da prostituição no país e promete muita mobilização até o apito inicial da competição por parte da Aprosmig e da Rede Brasileira de Prostitutas.

Conhecido pela defesa dos direitos dos homossexuais e por ter vencido uma edição do programa Big Brother Brasil, o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) apresentou, em julho de 2012, o Projeto de Lei 4.211/12, que pretende legalizar a prostituição no país. A proposta polêmica vem no escopo do debate propiciado pela Copa do Mundo, assim como ocorreu com os últimos países que receberam a competição. A África do Sul, que sediou o Campeonato Mundial em 2010, debateu com vigor o tema nos últimos anos da década de 2010, levando em conta principalmente o risco de disseminação da Aids no país, mas as propostas de legalização não foram aprovadas.

Na Alemanha, que realizou o Mundial em 2006, a legislação que trata do tema foi alterada poucos anos antes, aumentando os direitos das prostitutas e tornando a atividade legal. “O projeto pretende dar direitos trabalhistas aos profissionais do sexo e também combater a exploração sexual de crianças e adolescentes e o tráfico de mulheres”, afirma o deputado. Há ainda uma proposta tramitando no Senado no projeto do novo Código Penal que pretende descriminalizar as casas de prostituição.

SEM CONSENSO Em outubro, um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), escrito pelo advogado australiano John Godwin, recomendou aos países da Ásia que legalizassem a prostituição, mas a proposta de tornar legal a atividade não é consensual nem entre os movimentos feministas.

Em nome de Deus?

  Pastor confundido com ativista gay é expulso de evento organizado por Malafaia
A intolerância cega de algumas correntes evangélicas por vezes chega a tal ponto que respinga entre seus próprios pares. Na última quarta-feira, 5, um pastor da Igreja Quadrangular foi retirado à força do palco da "Manifestação pela liberdade de expressão, liberdade religiosa e família tradicional", organizada pelo polemico pastor Silas Malafaia, em Brasília.
bandeiraDetalhe, ele foi confundido com um ativista gay.
Motivo, portava uma bandeira da sua igreja, que é um pouco (bem pouco) parecida com a do arco-iris, utilizada pelo movimento LGBT.
Após a truculenta retirada do pastor do palco do evento, membros da Igreja Quadrangular explicaram aos seguranças que o homem retirado do palco não era um ativista gay, e sim um pastor que portava a bandeira da sua congregação. Após a explicação, os seguranças liberaram a volta do pastor ao palco.
A organização do evento afirmou que "houve um mal entendido". Porém, para consertar a lambança, os organizadores do evento vieram com a desculpa de que aquele era um evento para "todas as igrejas evangélicas" e que, portanto, não era permitido portar bandeiras de igrejas específicas.