quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

ARTIGOS

Abaixo algumas publicações para continuarmos pensando as temáticas de corpo, gênero e sexualidade(s) em articulação com a Educação


Organização de Livro: 
LEITE, Amanda Maurício Pereira; ROSA, Rogério. Machado(Orgs.). Módulo III: Educação, Escola e Violências. Florianópolis: NUVIC-CED-UFSC, 2011.
 
Capitulos de Livro: 
Práticas pedagógicas E EMANCIPAÇÃO: Gênero e Diversidade na Escola
Tutoras/cursistas e cursistas/tutoras: breve relato da atuação
no GDE
(p. 269) http://www.ieg.ufsc.br/admin/downloads/livros_eletronicos/25012010-114217gdefinal-defnitivo.pdf


Publicação na Revista Artemis vol. 14 / Dez-12:
Lendo imagens do Diverso http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/artemis/issue/view/1139

Publicaçao Revista Interface - v.16, n.42, jul./set. 2012   
http://www3.fmb.unesp.br/interface/det_edicao.php?edicao=47&lg=pt 
http://www.scielo.br/pdf/icse/v16n42/v16n42a21.pdf 

Publicaçao na Revista O Guari - Faculdade Estadual de Filosofia Ciencias e Letras de União Vitória - Paraná (FAFIUV) 
http://oguari.blogspot.com.br/2013/01/fotografia-e-perspectivismo-o-que.html 


Capturas insólitas (III Seminário Nacional Gênero e Práticas Culturais - olhares diversos sobre as diferenças - 2011) http://www.itaporanga.net/genero/3/07/15.pdf

Identidades Trans/desviantes (Semiedu 2008) http://ebookbrowse.com/amanda-mauricio-pereira-leite-pdf-d94681704
 






quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Estado laico?


A idade média está aqui (Beto Maia)

Ontem na Câmara vimos o quanto o Brasil ainda está distante de ser uma República laica e liberal, nas acepções plenas dos
A idade média estás aqui.  Beto Maia

Ontem na Câmara vimos o quanto o Brasil ainda está distante de ser uma República laica e liberal, nas acepções plenas dos termos. Apesar da decisão do STF sobre a união homoafetiva e da comunidade médico-psicológico-científica já ter estabelecido que a homossexualidade e a bissexualidade não são doenças, nem disfunções psíquicas, mas sim uma condição sexual natural tal como a heterossexualidade, a bancada evanjélica e pastores obscurantistas como Malafaia deram um show de homofobia e intolerância ao defenderem a "cura gay". Foram questionados e anulados de forma contundente pelo presidente do Conselho Federal de Psicologia, pelo presidente da ABGLBT e por deputados contrários ao projeto (com destaque para os dep. Jean Willys, Erika Kokay e Jandira Feghali),  que visa sustar a resolução do Conselho Federal de Psicologia que impede a reversão de condição sexual, associada ou não a curandeirismo religioso.Tal como já sabíamos, e os ativistas pró-cidadania deixaram claro mais uma vez, a resolução não impede o psicólogo de atender e de acolher um homossexual ou bissexual com sofrimento psíquico, mas sim veda o uso de terapias de conversão e bem como a propaganda de serviços curativos, quase sempre acompanhados por proselitismo cristianista.

Com mais esse episódio de intolerância e atraso consciencial, fica claro que as duas únicas "contribuições" da bancada evanja à democracia brasileira são: insistir no anti-científico e inconstitucional "cura gay", por um lado, e impedir a criminalização da homofobia, agindo, por tanto, como cúmplices, por outro lado. Ambas ações fazem parte de uma agenda política anti-gay, surgida devido a maior visibilidade social dos homossexuais e a sua luta por direitos civis plenos, que é contrária aos direitos humanos e à laicidade estatal, que tem como objetivo a eugenia social dos homossexuais (diminuição da população homoafetiva do país) e, por tabela, encher as arcas das igrejas com dinheiro dos homossexuais egodistônicos e iludidos com as falsas promessas de cura.

 A bancada evanjélica no Congresso Nacional é o  Hizbollá brasileirotermos. Apesar da decisão do STF sobre a união homoafetiva e da comunidade médico-psicológico-científica já ter estabelecido que a homossexualidade e a bissexualidade não são doenças, nem disfunções psíquicas, mas sim uma condição sexual natural tal como a heterossexualidade, a bancada evanjélica e pastores obscurantistas como Malafaia deram um show de homofobia e intolerância ao defenderem a "cura gay". Foram questionados e anulados de forma contundente pelo presidente do Conselho Federal de Psicologia, pelo presidente da ABGLBT e por deputados contrários ao projeto (com destaque para os dep. Jean Willys, Erika Kokay e Jandira Feghali), que visa sustar a resolução do Conselho Federal de Psicologia que impede a reversão de condição sexual, associada ou não a curandeirismo religioso.Tal como já sabíamos, e os ativistas pró-cidadania deixaram claro mais uma vez, a resolução não impede o psicólogo de atender e de acolher um homossexual ou bissexual com sofrimento psíquico, mas sim veda o uso de terapias de conversão e bem como a propaganda de serviços curativos, quase sempre acompanhados por proselitismo cristianista.

Com mais esse episódio de intolerância e atraso consciencial, fica claro que as duas únicas "contribuições" da bancada evanja à democracia brasileira são: insistir no anti-científico e inconstitucional "cura gay", por um lado, e impedir a criminalização da homofobia, agindo, por tanto, como cúmplices, por outro lado. Ambas ações fazem parte de uma agenda política anti-gay, surgida devido a maior visibilidade social dos homossexuais e a sua luta por direitos civis plenos, que é contrária aos direitos humanos e à laicidade estatal, que tem como objetivo a eugenia social dos homossexuais (diminuição da população homoafetiva do país) e, por tabela, encher as arcas das igrejas com dinheiro dos homossexuais egodistônicos e iludidos com as falsas promessas de cura.

A bancada evanjélica no Congresso Nacional é o Hizbollá brasileiro

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Gênero e Sexualidades

Monique David Ménard debate novas maneiras do desejo nas sociedades. 

Psicanalista francesa participa do Café Filosófico da CPFL Cultura, em Campinas (Foto: Acervo CPFL Cultura)Psicanalista francesa participa do Café Filosófico na CPFL Cultura  
 
A psicanalista francesa Monique David-Ménard discute questões sobre gênero, sexualidade e contingência às 19h desta quarta-feira (31) no Café Filosófico da CPFL Cultura, em Campinas (SP). A entrada é franca.
Professora da Univerisade de Paris VII, Monique irá debater como a definição de gênero altera a forma de a pessoa lidar com a sexualidade, seja reprimindo, liberando ou condenando determinada ação.
O tema faz parte do módulo "Novos sujeitos: às portas das transformações", com curadoria do filósofo Vladimir Safatle. 
Monique David-Ménard é uma das mais influentes teóricas da atualidade sobre questões de gênero e sexualidade. Suas obras são dedicados à análise das novas maneiras de circulação do desejo no interior.
 
Veja o video:

Aos 16 anos, garoto é o mais novo a fazer cirurgia para mudar de sexo

Aos 16 anos, Jack Green conseguiu a permissão dos pais para realizar o sonho de se transformar em uma menina – foi a pessoa mais jovem do mundo a ter uma cirurgia de mudança de sexo – e adotou o nome de Jackie. "Deus cometeu um erro, eu deveria ser uma menina", disse à mãe.  Aspirante à modelo, Jackie foi finalista no concurso de Miss Inglaterra. Atualmente, aos 19 anos, é hostess na loja Burberry em Bond Street. As informações são do Daily Mail.

A história do garoto que tentou suicídio várias vezes até conseguir se transformar em mulher é tema de um documentário que será transmitido pela BBC no final do mês. Jackie foi diagnosticada com transtorno de identidade de gênero (GID), por psiquiatras. O número de crianças encaminhadas para uma avaliação GID no Tavistock aumentou de 97 em 2009 para 208 em 2011, e mais são esperados este ano.

"Tem-se observado que as áreas no cérebro de algumas pessoas transexuais são estruturalmente as mesmas que o sexo que eles sentem que são", disse o diretor do Serviço de Desenvolvimento de Identidade de Gênero na Tavistock, Polly Carmichael. "Nós não temos uma resposta definitiva, mas é provável que seja uma combinação de fatores ambientais, genéticos e biológicos”, completou.

A vida dos transexuais, porém, é difícil. Uma pesquisa feita nos EUA mostrou que quase metade das pessoas já tentou o suicídio e eles têm duas vezes mais probabilidade de desemprego do que o resto da população. Mas, para Jackie a situação é diferente. Ela começou a fazer tratamento hormonal aos 14 anos - nunca passou pela puberdade masculina e sua voz não engrossou.
"Um monte de transexuais têm características masculinas, porque eles não foram capazes de tomar os remédios cedo como eu fiz. Isso faz com que eles se destaquem, tornando-se muito mais difícil de se encaixar na sociedade, especialmente quando se trata de um trabalho", explicou Jackie.

Aos oito anos, Jackie enviou um e-mail a todos de sua escola primária dizendo ser uma menina presa dentro do corpo de um menino. Depois disso, começou a ir à escola vestida como uma menina. “Jackie ficou muito melhor depois disso”, disse a mãe Susan. “Com cerca de 10 anos de idade, eu lembro de ter dito a minha mãe que se eu começasse a me transformar em um homem, eu me mataria. Eu estava ciente de que estava me aproximando da puberdade e que, juntamente com o bullying, era demais. Eu tomei uma overdose de Paracetamol e acabei no hospital. Olhando para trás, foi mais um grito de socorro", lembrou a jovem. Foi então que passou a tomar bloqueadores de testosterona.

"Eu sou uma menina, sempre fui"

Jackie fez a mudança de sexo, colocou silicone nos seios e quer participar novamente do concurso de Miss Inglaterra. Está namorando há dois anos e é a favor do tratamento e do procedimento em outras adolescentes. "Eu sei que há muita controvérsia sobre GID e bloqueadores, mas acho que as crianças precisam de mais crédito para saber quem são. Não há muito tempo para mudar de ideia se você quiser”, disse.

Transtorno de gênero

GID é diagnosticado quando a criança apresenta vários comportamentos característicos, inclusive afirmando repetidamente o desejo de ser, ou insistindo que é, do outro sexo. Muitas crianças ficam cada vez mais angustiadas com o problema - a ponto de depressão - à medida que envelhecem, especialmente quando se aproxima a puberdade. Normalmente, elas expressam desgosto com sua genitália.

Evidências sugerem que quatro em cada cinco crianças pré-púberes diagnosticadas com GID não experimentam a condição na idade adulta. Um em cada cinco consegue ser feliz com o gênero de nascimento. “Em alguns casos, o tratamento com drogas é necessário. Mas nós trabalhamos duro para tentar manter as crianças abertas a todas as possibilidades”, disse Polly.  

Fonte: Terra
 
Agradecimento mais que especial a Andressa Proença - colaboradora ativa do blog!

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Onde mora o preconceito?

 
 Casal de lésbicas se beija em frente a pessoas que participam de manifestação contra o casamento gay e adoções por casais do mesmo sexo, em Marselha, na França. O movimento Alliance VITA protestava contra a provável adoção de uma lei, a ser assinada no dia 31 de outubro, autorizando o casamento gay.
(Reportagem compartilhada pelo Facebook)


sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Pai capaz de amamentar levanta novo questionamento sobre a maternidade

Trevor MacDonald e seu filho em foto postada no blog Milk Junkies. (Foto: Reprodução)MacDonald tem registrado a experiência de amamentar em fotos e anedotas em seu blog, Milk Junkies, por quase um ano.  Contudo, apenas em agosto seu caso ficou conhecido, após um desentendimento com La Leche League (LLL), uma organização internacional de apoio à amamentação. O pai e o orgão discordaram sobre a definição que cada um tem sobre maternidade.

A grande ironia, na verdade, é que MacDonald nasceu mulher, mas foi ‘transformado’ em homem aos 23 anos, através de tratamento hormonal e cirurgia nos seios. “Eu continuo com os meus órgãos reprodutivos femininos, mas sempre me senti (e ainda me sinto) completamente masculino. Além disso, qualquer pessoa que me visse na rua não pensaria que sou outra coisa senão um homem”, ele escreveu em um artigo que saiu na Out Magazine, em abril. Ele ainda refere a si mesmo como pai, e não mãe.

Ele também se autodenomina  homosexual e casou com o atual parceiro antes de engravidar. Antes de ter o bebê, ele pesquisou e descobriu um método de amamentação para mulheres com mastectomias (a cirurgia que fez para ter seios masculinizados).

O principal motivo para Trevor informar-se sobre o assunto é garantir ao seu filho os nutrientes que apenas o leite materno possui. Através de um dispositivo conectado ao mamilo (o SNS), MacDonald conseguiu alimentar Jacob, contando ainda com a doação láctea para incrementar sua própria produção. Para o bebê, a experiência não difere em nada em relação a uma amamentação comum. No início, contudo, Trevor relatou no blog a dificuldade em prover o bebê com leite com um tecido mamário reduzido pela cirurgia.

Até a última semana, o grande debate acerca a questão de amamentação era centrado nos dilemas de quais locais são ideais para isso e quanto tempo de duração deve ter. Mas Trevor MacDonald, o pai ousado de 27 anos, fez surgir uma questão ainda maior sobre isso: quem fica responsável pela amamentação? O pai ou a mãe?

Sim, para muitas pessoas a resposta óbvia seria a mãe. Contudo, o caso do jovem trouxe novas possibilidades e vale a pena conhecer a história para então tirar as próprias conclusões.

Depois de desempenhar os papéis de mãe com seu filho, Jacob (agora com 16 meses), Trevor esperava se tornar um dos diretores dos grupos de suporte local do LLL. Contudo, ele foi informado de que só poderia ocupar a função se fosse mulher.

Para acompanhar a trajetória de Trevor, basta acessar seu blog: Milk Junkies. No portal, ele posta fotos e histórias …

Apesar de todo o atrito, em carta ao La Leche League contestando a política que limita a participação às mulheres, o pai elogiou a instituição, reconhecendo que amamentação paterna é um território inteiramente novo e, portanto, é natural que gere alguma polêmica.

“Sem o suporte e as informações que recebi do LLL, duvido que conseguiria desepenhar essa função hoje.”, ele escreveu em carta publicada no blog. “Eu espero um dia conseguir recompensar a compaixão, o encorajamento e a perícia que fez tanta diferença na minha experiência amamentando.”



Trevor amamentando Jacob, agora com 16 meses. (Foto: Reprodução)Apesar de tudo, a organização resolveu manter a regra de que lideres de grupos poderiam ser apenas mulheres. Em compensação, a resposta enviada a MacDonald e também publicada no blog enfatiza que a missão do órgão é “ajudar todas as mães... independentemente da sua origem ou sua situação atual”. A prova é que mesmo MacDonald, que ainda se denomina como pai, recebeu o apoio do grupo.

Repercussão nacional

O caso de Trevor recebeu a atenção da imprensa canadense na última semana, levantando novos questionamentos, particularmente entre mulheres.

“A decisão da La Leche League do Canadá é descriminatória”, disse a PhD em paternidade e blogueira, Annie Urban, ao jornal Toronto Star. “Está na hora da LLL atualizar as suas regras e reconhecer que amamentação não é exclusividade materna, necessariamente.”

Já Jill, uma residente de Montreal, discorda. Em carta enviada ao Montreal Gazette, um dos veículos que cobriam todo o caso, ela defende a decisão da LLL, pois acredita que o grupo estava protegendo as mães de serem obrigadas a abrir sua intimidade para um homem.  “Eu acho que eles acertaram quando decidiram que a melhor decisão seria ter uma mulher liderando e ajudando os grupos de apoio”, ela escreveu.

Por fim, do que se trata o caso

Na realidade, esse debate sobre amamentação não se resume a tomar partidos ou posições, mas sim se extende a toda uma avaliação sobre a denifição de maternidade, paternidade e tudo o que essas fimções abrangem. O recente projeto californiano de permitir que crianças possuam múltiplos pais legalmente é outro exemplo de como a estrutura familiar está evoluindo no quesito aceitação sexual e de gênero. Além do divórcio e da criação independente.

De acordo com pesquisa realizada por instituto, dentro da atual comunidade de transgêneros, é estimado que 38% são pais. Esses números ainda tendem a crescer com o progresso científico e educacional. Isso não significa, necessariamente, que uma organização deva mudar a sua política, apesar de o caso de MacDonald provavelmente atrair mais grupos para apoiar a causa.

A maior lição que se pode tirar da polêmica entre MacDonald e LLL, contudo, é a civilidade. Diferentemente de outras controvérsias em torno do tema ‘amamentação’, essa discussão específica recebeu um olhar mais sensível (observado pela troca de elogios das duas partes, apesar do desentendimento).

MacDonald está agora solicitando que os leitores de seu blog dêem voz à sua opinião, mas continuem apoiando a LLL. “Não retirem o apoio à organização – há milhares de lideres incríveis e com mente aberta”, ele escreveu. “Não vamos esquecer o ótimo trabalho que eles desempenham!”.

Fonte: Yahoo! Shine.

Agradecimento a Andressa Proença pelo envio da materia.

 

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Preconceito

 

Porque deveria ser classificado como patologia toda forma de PRECONCEITO!

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Quero ser menino


Adelaide Ivánova
Adelaide Ivánova, 30, carinhosamente conhecida como Ivi, é brasileira de Recife e desde o começo de 2011 vive em Berlim. Pra Alemanha foi mesmo por amor, dois: a fotografia e Armin.
Antes de viver em terras germânicas, foi paulistana de coração por uns anos e aqui trabalhou fotografando moda. Da moda, tirou inspiração e um senso estético que dialoga de forma única com seu estilo de imagem e os temas que escolhe. Consegue falar de dores e de alma através de imagens limpas, rosadas, granuladas e simples.


Seu mais recente projeto, de título que lembra verso de prosa “Autotomy is the ability some animals have to change or mutilate their bodies to look like something else and protect themselves from the world and I was amazed to notice that we all do it, not just sea cucumbers” ("Autotomia é a capacidade que alguns animais têm de mudar ou mutilar seus corpos para se parecerem com outra coisa e se protegerem do mundo. Fiquei espantada ao perceber que todos nós fazemos isso, não apenas os pepinos do mar"), foi a primeira série produzida totalmente em Berlim. Até o ano passado, ainda teimava em registrar o Brasil, mesmo morando fora do país e precisando fazer longas viagens pra conseguir isso. É o caso do seu último projeto realizado por aqui, It's ok to be a boy: uma série lindíssima, embebedada por poesia e construída por memórias pessoais fortes, do tipo cicatriz. Nele fotografou seus “pares”, meninas que sofreram violência sexual.


Desta vez Ivi ainda trata de sexualidade, mas de uma forma nova, tanto para seu trabalho, quanto em relação às suas experiências. Usar a fotografia pra falar de transexualidade também foi aprendizado. A convite do Centre d'art Passerelle, em Brest, na França, escolheu acompanhar por meses a rotina de dois meninos que vivem um processo de mudança de gênero. Na verdade, eles nasceram meninas, mas se consideram homens e estão no caminho para serem de fato eles, não elas.


Para a Tpm, ela contou da experiência de fotografá-los e dos aprendizados com ela. Falou ainda sobre a vontade de tratar a sexualidade mais uma vez e dos rumos que seu trabalho vai tomando.

"Engraçado, eu nunca quis fotografar meninas que viram menino. Nunca me interessou. Nunca entendi como alguém que nasce mulher pode querer ser outra coisa além de mulher. Aí o destino, me ensinando a abrir meus horizontes mesmo quando eu não quero, agiu"

Abaixo, o texto que escreveu para a nova série:

Autotomia é a capacidade que alguns animais têm de mudar ou mutilar seus corpos para se parecerem com outra coisa e se protegerem do mundo. Fiquei espantada ao perceber que todos nós fazemos isso, não apenas os pepinos do mar.
No início deste projecto, o meu desejo era fazer uma reportagem sobre dois garotos transexuais que vivem em Berlim, Miki e Kai. Por meses eu os segui em suas atividades diárias, apenas para descobrir que, se eu quisesse descrever o que é ser transexual, seguindo-os não era o suficiente. Para contar este conto, eu considerava o meu corpo - e as experiências que ele viveu e sentiu durante a produção da série - como instrumento de narração. Para falar sobre ser transexual, sob a minha perspectiva não-transexual, eu comecei a "fotografar" os questionamentos que fui confrontada com toda a realização deste projeto: a idéia do sósia, o jogo de esconde-esconde de ser vs parecer e pensamentos sobre a feminilidade, disfarce, e transformação.
Tpm. Como surgiu a ideia de fotografar a dupla?

Ivi. Ano passado fomos convidados pela curadora do Centre D'art Passerelle, em Brest (França), para produzir uma exposição coletiva sob o tema "juventude". Dentro desse espectro, cada um podia escolher uma pesquisa de seu interesse. Em princípio eu queria dar continuidade ao tema violência sexual, dessa vez aqui na Europa, mas não encontrei personagens. Em busca de um novo tema ainda ligado à sexualidade, comecei a me perguntar como é a vida de um jovem transexual. A gente vê transgenders maravilhosas como a Lea T. ou Amanda Lepore, mas elas são adultas, parecem estar bem na própria pele. E me intrigava muito pensar em como é passar por duas transições ao mesmo tempo, a da adolescência pra vida adulta, e a do gênero, tudo ao mesmo tempo. Foi aí que encontrei o tema.


Como os conheceu e por que os escolheu? Engraçado, eu nunca quis fotografar meninas-que-viram-menino. Nunca me interessou. Nunca entendi como alguém que nasce mulher pode querer ser outra coisa além de mulher. Então o projeto começou com Grete, que mora sozinha, ganha sua grana como bartender e estudou história da arte. Mas ela mudou de ideia e eu fiquei a ver navios. Aí tentei Kitana, mas a história de Kitana era mais triste, com um amante turco violento e sem estudos, e sem trabalho, e vivendo de seguro desemprego, ela era exatamanete o clichê da "vida dura de travesti" que eu queria fugir. Aí o destino, me ensinando a abrir meus horizontes (mesmo quando eu não quero), agiu: um dia, recebi um email de Michael, simplesmente se oferecendo pro projeto. Ele ouviu falar do meu trabalho na ONG em que é atendido e me escreveu.
Michael e Kai são meninas que querem ser meninos? É isso? Sim, eles nasceram menina mas sao meninos por dentro, fazem há 2 anos o tratamento de hormonio e estão na fila da cirúrgia de mudanca de sexo, que é bancada pelos planos de saúde. Tem todo um processo com terapeuta e assistente social pra conseguir uma autorização e demora. Mas é um direito e acontece sim.


Pode nos contar sobre a experiência desse tempo fotografando-os? Não foi a coisa mais gostosa do mundo porque, para além das questões de gênero, eu me deparei de novo com as questões sociais que queria evitar mas, dessa vez, me deixei levar. Michael e Kai abandonaram suas famílias e os estudos, vivem de ajuda social, não trabalham, não fazem nada e têm um nível de auto-piedade típico das pessoas com baixo nível de escolaridade em países ricos - quanto mais o governo dá, mais eles reclamam e menos agem para mudar a própria situação. Por outro lado, foi maravilhoso poder expandir minha visão do papel desenvolvido pelo corpo na construção da identidade, e poder acompanhar esse processo de maneira tão profunda como é para um transexual. Foi doloroso e muito bonito. Me influenciou bastante, também.
De que forma te influenciou? Estava sob um nível de pressão pessoal tão forte que tive uma crise de ansiedade, fiquei internada e tudo. Mexeu muito comigo, o mistério dessa transformação no corpo, até o nome "trans-gênero" era para mim um mistério, uma coisa inatingível, quase "infotográfavel" e, quando cheguei nessa encruzilhada, de achar que não consegueria contar essa história em fotos, tive um treco. Quando estive internada foi que percebi que era hora de usar o meu corpo e minhas vivências como narrador da história, daí os auto-retratos incluídos na série, as fotos encenadas e de infância, o bolo-de-rolo, etc.


Não é seu primeiro projeto que fala trata sexualidade. Primeiro o das meninas brasileiras que sofreram abuso, agora uma dupla de meninos transexuais. O que te atrai no assunto? E ainda teve o primeiro de todos, sobre androginia, feito em São Paulo em 2010. É claro que sei o que me atrai no assunto: meus traumas. E tudo bem, traumas são fonte de inspiração legítimas pra uma pesquisa em arte. O que eu tento e espero conseguir evitar é que o resultado final seja autoterapêutico. O processo é autoterapêutico, mas o resultado tem que ser universal. Mas o que me encanta para além de mim mesma, é a sexualidade ou desejos sexuais como ferramenta de autocompreensão.


Mesmo quando retrata temas polêmicos e fortes, suas fotografias continuam com cores leves, luz rosada e cenas simples e limpas. Pra você, como funciona esse diálogo? Eu acho pouco desafiador escolher um tema complexo e tratá-lo com complexidade. É a saída mais fácil: fotografar algo obscuro obscuramente. O desafio está exatamente em usar essa ambivalência, trabalhar em cima dela. Ok, eu tenho aqui na minha frente uma menina que foi molestada aos 9 anos e agora ganha prêmio de melhor atriz em festival de cinema. É lindo e, se as pessoas são tao inspiradoras, não tem como eu fotografá-las de outro jeito.
O que te inspira para criar essa estética?
 

Eu adoro fotografia de moda. Quando é boa, não tem melhor. Mas o que mais me inspira é literatura, o exercício de criar imagens mentais pras coisas que um autor descreve é de um imenso valor na hora de fotografar.
Você captura momentos não ensaiados ou planejados. E a sensação quando olho é de que alguns personagens são próximos seus, como amigos. Estou certa? Aí é que está o mistério da coisa. Michael e Kai não eram, nem viraram meus amigos. Mas eu me abri bastante, contei minha vida inteira pra que eles entendessem porque eu estava interessada neles e, quem sabe assim, eles se abrissem também suas vidas pra mim. Talvez haja intimidade nas fotos porque eles conheciam a pessoa que os estava fotografando, mais do que eu a eles. Não sei...
A série ainda está exposta na França? Tem planos de trazê-la para o Brasil? A exposição está atualmente em cartaz em Brest, na França, no Centre d'art Passerelle e em Nova York, na PowerHouse Arena, dentro da programação do Dumbo Arts Festival. A série ainda é finalista do premio do Festival de Fotografia de Nova York e foi do Festival de Fotografia de Atenas. Ano que vem, vai ser exposta no museu de Cottbus, um dos maiores da Alemanha, e depois segue pra Berlim, no Kunstverein Tiergarten. Depois não sei. Pro Brasil queria muito, mas inscrevi em dois festivais e nao foi aceito. Uma pena...

http://revistatpm.uol.com.br/so-no-site/entrevistas/quero-ser-menino.html#0

Vai lá: adelaideivanova.com

Reportagem enviada por Andressa Proença.

sábado, 6 de outubro de 2012

Concurso de mini-miss causa polêmica na França


Concursos de mini-miss estão provocando polêmica na França. Políticos de diferentes partidos e movimentos feministas denunciam a "hipersexualização de crianças" e pedem a criação de uma lei proibindo esse tipo de evento.
No fim de setembro, um concurso de beleza infantil em Bordeaux, no sudoeste da França, teve de ser cancelado devido a protestos de parlamentares e de organizações feministas.
Dois deputados socialistas escreveram uma carta às autoridades criticando os concursos de mini-miss que tornam, segundo eles, as crianças "objetos de sedução, avaliados por adultos, com uma perda total da inocência". Eles pedem que o governo proíba esse tipo de concurso e a divulgação de "imagens sexualizadas de crianças".
"Esses concursos de mini-miss contribuem para criar uma visão estereotipada das garotinhas, construída em função de sua aparência e sedução. Isso tem de acabar", diz Nicole Blet, presidente da associação feminista MFPF da região de Bordeaux.
O assunto movimenta regularmente a sociedade francesa. Pesquisas realizadas por sites de jornais revelam que a grande maioria da população é contra concursos infantis de beleza.
Esta não foi a primeira vez que políticos e associações pediram o fim dos concursos de mini-miss na França. No início do ano, a senadora Chantal Jouanno, do partido UMP, da direita, entregou ao governo um relatório de 160 páginas denunciando a "hipersexualização de crianças" e pedindo a proibição de todos os concursos de beleza na França com candidatas que tenham menos de 16 ou 18 anos. 

Para os críticos, os consursos trazem a hipersexualização de crianças. Foto: BBC Mundo
 Para os críticos, os consursos trazem a "hipersexualização de crianças"


"Essas garotas são fantasiadas em bombons sexuais, elas participam de uma corrida à aparência, à sedução e ao culto da beleza. Não posso aceitar esse reinado de futilidade e de instrumentalização das crianças", afirma a senadora.
 
Seu relatório também faz recomendações sobre imagens de meninas veiculadas pela publicidade. Os concursos de beleza com meninas vêm se multiplicando na França nos últimos anos.
"Miss Princesa" (de 7 a 9 anos), "Miss Rainha" (de 10 a 12 anos), "Graine de Miss" (Grão de Miss, em tradução literal), desfiles amadores em vilarejos, com crianças usando maiô e roupas consideradas sexy, são alguns dos eventos criados no país.
"O concurso julga mais o carisma da criança do que a sua beleza. É um divertimento para as crianças", disse à BBC Brasil Michel Le Parmentier, criador do "Mini-Miss França", que existe há 23 anos e afirma ser a única competição oficial desse tipo.
Em razão da polêmica existente, o comitê do "Mini-Miss" criou uma carta de ética, um regulamento interno que proíbe maquiagem (apenas baton transparente e purpurina nos cabelos), e também o uso de salto alto, maiô e roupas consideradas "inapropriadas".
"Mantivemos o vestido de princesa porque faz parte do espírito desse tipo de competição", afirma Le Parmentier. As novas regras também impedem a participação ao concurso de meninas com menos de 7 anos de idade.
"Essas adaptações não mudam a filosofia desses eventos, que é baseada no talento de sedução e na competição de aparências", ressalta a senadora Jouanno.
"A hipersexualização de crianças diz respeito às atividades de manequim, não os concursos de mini-miss. Concordo que é preciso proibir publicidades que sexualizam as crianças. É nessa área que a questão precisa ser regulada", diz Le Parmentier.
Ele ressalta que há exageros nos concursos infantis realizados nos Estados Unidos, onde crianças chegam a usar dentes e cabelos postiços e maquiagem pesada.
"Nos Estados Unidos, o concurso caiu em extremos. Não é o caso da França. As primeiras vencedoras na França têm hoje 30 anos. Elas se tornaram mães e não estão traumatizadas", diz ele.
No fim de outubro, o comitê inter-ministerial de direitos das mulheres deverá discutir a questão da imagem das crianças na publicidade. Por enquanto, o governo não se posicionou sobre a proibição dos concursos de mini-miss. http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI6207905-EI8142,00-Concurso+de+minimiss+causa+polemica+na+Franca.html

domingo, 30 de setembro de 2012

(Des)patologização das identidades trans será tema de seminário

  A patologização das identidades trans, com todos os dilemas e paradoxos que isso implica, será o foco dos debates que acontecerão no III Trans Day NIGS – Seminário Transfobia, Cidadania e Identidades, que será realizado nos dias 9 e 10 de outubro, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Pesquisadores que estudam identidades ou expressões de gênero, ativistas dos movimentos de travestilidades e transexualidades e formuladores  de políticas públicas no campo dos direitos humanos e da saúde se reunirão durante dois dias para compartilhar vivências, reflexões e propostas em torno da população trans no Brasil, grupo com pouca visibilidade no campo das lutas LGBTTT. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas até o dia 30 de setembro. Será entregue certificado para quem tiver 75% de presença.
Organizado pelo Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades (NIGS) do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) da UFSC, o seminário faz parte do circuito internacional de atividades que marcam a luta pela despatologização das identidades transexuais e transgêneros ao redor do mundo. Nesta terceira edição haverá rodas de conversa sobre três assuntos fundamentais: saúde trans e políticas públicas, o “nome social” como estratégia de inclusão e as (in)visibilidades trans. Também, um bate-papo com João W. Nery, autor de “Viagem solitária”, uma mostra cinematográfica integrada por nove filmes e curtas recentemente estreados e um manifesto visual – exposição de fotografias – intitulado “Pelas ruas… sem etiquetas!”.
O III Trans Day NIGS tem como objetivo ampliar a reflexão científica sobre temas da atualidade no campo dos estudos de gênero nacional e internacional, tendo como enfoque fundamental a (des)patologização das identidades trans e suas implicações tanto no plano subjetivo quanto no nível social e político. Ao mesmo tempo, o propósito é profundar a troca de saberes entre a universidade, os movimentos sociais e o Estado, visando contribuir para o respeito à cidadania destes grupos sociais através da implementação de políticas públicas inovadoras no campo do gênero e das sexualidades.
A primeira edição se realizou em outubro de 2010, inserindo a UFSC no conjunto de ações promovidas pela campanha mundial Stop Trans Pathologization – 2012, que visa a retirada das identidades trans dos catálogos de doenças. Especificamente, a retirada do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM), da American Psychiatric Association, cuja versão revista surgirá em 2013, e da lista Classificação Internacional de Doenças (CID), da Organização Mundial da Saúde (OMS), que será revisto em 2014.
Em 2011 foi realizado o II Trans Day NIGS, que teve como característica a incorporação do campo das artes plásticas na reflexão teórica proposta pelo NIGS, através de um manifesto visual que teve exposição itinerante na UFSC e uma mostra de filmes sobre a temática trans. Nesta terceira edição, pesquisas, testemunhos, filmes e fotografias vão confluir novamente para promover um debate tão profundo quanto necessário.

Serviço:
O quê: III Trans Day NIGS – Seminário Transfobia, Cidadania e Identidades
Quando: 9 e 10 de outubro de 2012
Onde: Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis.
Programação e inscrições: http://transdaynigs2012.webnode.com/
Informações de contato: Simone Ávila
E-mail:
Fone: (51) 3221-5962

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Transexuais: o drama de homens que nasceram em corpo de mulher

Nascidos em corpo de mulher, eles lutam para se transformar fisicamente e pelo direito de usar o nome masculino na faculdade, no trabalho e na carteira de identidade

Por Mariana Sanches. Fotos Gabriel Rinaldi
Gabriel Rinaldi
O guarda civil Márcio Régis Vascon se formou em Direito. 
Na colação de grau pode ser chamado pelo nome social
O coração de Márcio Régis Vascon batia acelerado sob a beca preta, em uma noite quente de dezembro passado. Às vésperas de completar 40 anos, faltava a Régis dar apenas alguns passos para realizar um sonho interrompido vinte anos antes. À beira do palco, sob o olhar atento de quase 500 pessoas, no anfiteatro da Universidade Paulista, em Campinas, ele estava prestes a receber o canudo de Bacharel em Direito. As batidas desenfreadas no peito, no entanto, não eram só de alegria. Eram de aflição. Com o rosto forrado de barba, o cabelo cortado rente ao crânio, o rosto anguloso e a voz grossa, nada em Régis fazia lembrar o universo feminino. Mas, ele nasceu mulher. Em seus documentos, até hoje, consta o nome de batismo — Márcia Regina — dado pela mãe. Naquela noite, havia prometido a si mesmo que não subiria ao palco se fosse chamado de Márcia. Acionou a Defensoria Pública do Estado de São Paulo para que tivesse direito de ser chamado por seu nome social. Um ofício determinava que a faculdade o respeitasse. Quando seu nome — Márcio Régis — foi anunciado, todos os colegas levantaram para aplaudi-lo. Ao longo dos cinco anos de curso, Régis não lutou só pelo grau de Bacharel em Direito. Lutou pela própria identidade.

Régis é um homem transexual.­ Diferente da homossexualidade, a transexualidade é descrita pela ­Organização Mundial da Saúde ­como um transtorno de identidade­ de gênero, em que o sexo biológico­ não condiz com a identidade de gênero da pessoa. A condição de Régis é conhecida pela sigla FTM (Female To Male, ou feminino para masculino). É um fenômeno mais raro do que aquele em que alguém nascido homem deseja transformar-se em mulher, caso da modelo brasileira Lea T. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, há uma mulher transexual a cada 30 mil pessoas e apenas um homem transexual a cada 100 mil.
Embora a transexualidade seja um fenômeno mundialmente reconhecido desde a década de 80, o Brasil avançou pouco no respeito aos direitos dos transexuais­. Enquanto a Argentina aprovou, em maio, uma lei que permite que o nome, o gênero e a foto de documentos de identidade sejam modificados por qualquer pessoa maior de 18 anos que não se reconheça no gênero registrado na certidão de nascimento, aqui, essa decisão ainda cabe ao juiz e às suas convicções. Não há marco legal ou jurisprudência em relação ao resultado de processos de troca de nome. As ações chegam a levar três anos, ou mais, para ser julgadas. E, frequentemente, o resultado é negativo. “Infelizmente, há uma influência forte dos preceitos judaico-cristãos no Judiciá­rio, o que tem impedido decisões mais progressistas”, afirma o juiz Roberto Coutinho Borba. Em 2009, em Bagé (RS), o juiz Borba deu uma das raras decisões favoráveis à troca de nome. Uma cabeleireira, conhecida na cidade como Verônica, pôde ter seu nome de registro — Antônio — substituído pelo­ nome feminino. “Ela ainda não tinha sido operada para mudar de sexo e, por isso, os meus colegas não autorizaram a troca­ de nome­. Mas ela já tinha feições femininas­ e sua vida estava completamente parada­ por conta do nome. Ela não conseguia comprovar sua identidade, abrir conta em banco,­ estudar­, porque seus documentos de homem não condiziam com suas características femininas”, afirma Borba. 

“A influência da religião no judiciário impede decisões a favor da troca de nome” Roberto Coutinho Borba, juiz de Direito
EXCLUSÃO Os juízes que optam por não autorizar a troca de nome argumentam que, sem a cirurgia de mudança de sexo, todas as transformações físicas são reversí­veis. Para eles, alterar os documentos nessa condição seria facilitar o crime de falsidade ideológica, em que uma pessoa se faz passar por outra. Na prática, a opção dos juí­zes tem excluído milhares de pessoas de escolas, faculdades, do mercado de trabalho, enfim, da ­cidadania. Isso é especialmente verdade para os homens transexuais.
No caso das mulheres trans, o desejo de se transformar costuma ser mais facilmente satisfeito. Além de usar hormônios femininos e de implantar silicone para dar forma aos seios, elas têm à disposição uma técnica cirúrgica segura para criação de vagina. O Sistema Único de Saúde (SUS) realiza o procedimento gratuitamente. Em clínicas particulares, a cirurgia de neovagina pode custar até R$ 40.000. Cenário muito diferente é aquele encontrado por homens transexuais. Se, por um lado, 100% deles sonham em ter um pênis funcional e em dimensões normais, por outro, dos cinco entrevistados por esta reportagem, nenhum se disse disposto a fazer uma faloplastia. Esta consiste num conjunto de complicadas interveções cirúrgicas que promete formar um pênis de até dezoito centímetros de comprimento. Primeiro, um tubo de material cirúrgico é implantado no braço do paciente. Durante alguns meses, tecidos e enervações serão formados em torno desse tubo. Uma nova cirurgia será feita para retirá-lo do braço. Os médicos, então, usarão a pele da superfície de uma das coxas do paciente para envolver o tubo. A pele da planta do pé serve para desenhar a glande. Tudo será incorporado à genitália do trans. Embora o Hospital das Clínicas de São Paulo já realize a faloplastia, a técnica é considerada experimental. O pênis criado a partir da cirurgia raramente é capaz de gerar orgasmos, não costuma ficar ereto e, em alguns casos, é rejeitado pelo organismo, levando à necrose de toda a genitália e de parte do sistema urinário. O pós-operatório delicado pode levar à morte.

Diante dos enormes riscos envolvidos e da posição inflexível de alguns juízes, os homens trans se viram num limbo jurídico. A ação da Defensoria Pública começa a desfazer esses nós junto às faculdades e às empresas onde os transexuais estão. É uma maneira de fazer com que eles existam e sejam respeitados em seu cotidiano, entre seus colegas de classe, chefes e subordinados. “Há um decreto estadual em São Paulo que recomenda o uso do nome social em repartições públicas. Com base nele, estamos pedindo a mudança do tratamento dos trans nas faculdades e empresas privadas. Se há resistência, ameaçamos abrir um processo judicial”, afirma a defensora Maíra Diniz. “Não importa se o trans é operado ou não, isso é apenas um detalhe. Mas o nome não é um detalhe. O direito à identidade independe do sexo biológico. Trocar o nome de alguém em documentos não é difícil e não traz insegurança. Se fosse assim, o ex-presidente Lula não poderia ter incluído o apelido no nome de registro.” 

PRECONCEITO Foi graças à atuação da Defensoria que Régis teve o reconhecimento público que tanto esperava no dia da sua colação de grau. Expulso de casa pela mãe aos 23 anos, assim que ela descobriu que ele tinha uma namorada, Régis trabalhou como babá e como servente de pedreiro, até passar no concurso para Guarda Civi­l em Campinas, São Paulo. Há seis anos, começou sua transformação física. Com a supervisão de um endocrinologista, passou a tomar uma injeção de testosterona por mês. Uma cirurgia retirou todos os órgãos sexuais femininos de Régis. Conforme a barba­ crescia e a voz engrossava, sua situação piorava entre os colegas de farda. “A convivência era delicada porque a guarda é extremamente machista. Até hoje, é frequente agressões contra travestis”, afirma Régis. “Um dos guardas chegou a me dizer que, se ele fosse Deus, pessoas como eu seriam queimadas na fogueira.” Para testá-lo, os colegas começaram a exigir resultados exemplares nos testes físicos obrigatórios. “Ficavam dizendo que era na corrida que eles queriam­ ver se eu era macho mesmo.” Régis corria mais rápido do que quase todo o pelotão, o que não é exigido de mulheres. Chegou a completar os testes com o pé torcido. “Melhor isso do que aguentar as piadinhas.” Quando pediu aos superiores para que seu nome na farda passasse de Márcia Regina­ para Márcio Régis, a situação se complicou. Ele chegou a sofrer sete processos administrativos ao mesmo tempo. “Eram todos sem motivo. Fui exonerado com a ­justificativa de que eu era incompetente. Mas a guarda nunca conseguiu provar isso e acabei readmitido por mandado judicial”, diz Régis, que nunca quis deixar a farda. Reincorporado ao trabalho, em vez de Regina, passou a sustentar Vascon, seu sobrenome, na farda. Ainda assim, o comando nunca permitiu que ele usasse o banheiro masculino em vez do feminino. “Eu ia na cara de pau mesmo.” 

Exposição apresenta as diferentes percepções do corpo

Tema é abordado por três artistas em exposições de fotos, desenhos e pinturas
Obra de Eliana Borges e Cintia Ribas (foto: Divulgação)
Duas novas exposições entram em cartaz no Museu Alfredo Andersen nesta sexta-feira (28), às 19 horas. As mostras “quando não mais”, de Eliana Borges e Cintia Ribas, e “Under Construction”, do artista visual Emerson Persona, ficam expostas até 4 de novembro.

A exposição “quando não mais” resulta da parceria das artistas Eliana Borges e Cintia Ribas que, ao trabalhar com paisagem e corpo, captam o movimento por meio de fotografias. A ação performática é retratada em composições de frames, com imagens sobrepostas. Há um ano a dupla desenvolve trabalhos em conjunto e a parceria foi batizada de “aduas”. Assim, uma fotografa a outra, sempre unindo paisagem e corpo, e transformando a imagem em uma espécie de pintura com luz.

A mostra “Under Construction”, do artista visual Emerson Persona, é composta por desenhos e pinturas de pequenos e grandes formatos e apresenta a fragmentação e distorção do corpo humano, pensados a partir da relação do artista com o meio em que vive. Emerson se baseia em experiências do seu dia a dia para fazer as representações do corpo, apresentando um universo sensível, com figuras doces e violentas, as quais encenam situações que tratam a existência humana.

Serviço

Local: Museu Alfredo Andersen
Endereço: Rua Mateus Leme, 336. Centro
Data e horário: De 29 de Setembro a 04 de Novembro de 2012 (terça-feira a domingo), terça a sexta-feira, das 9h às 18h e aábado e domingo, das 10h às 16h.
Preço: Entrada Franca

http://www.bemparana.com.br/noticia/231441/exposicao-apresenta-as-diferentes-percepcoes-do-corpo