Concursos de mini-miss estão provocando polêmica na França. Políticos de
diferentes partidos e movimentos feministas denunciam a
"hipersexualização de crianças" e pedem a criação de uma lei proibindo
esse tipo de evento.
No fim de setembro, um concurso de beleza infantil em Bordeaux, no
sudoeste da França, teve de ser cancelado devido a protestos de
parlamentares e de organizações feministas.
Dois deputados socialistas escreveram uma carta às autoridades
criticando os concursos de mini-miss que tornam, segundo eles, as
crianças "objetos de sedução, avaliados por adultos, com uma perda total
da inocência". Eles pedem que o governo proíba esse tipo de concurso e a
divulgação de "imagens sexualizadas de crianças".
"Esses concursos de mini-miss contribuem para criar uma visão
estereotipada das garotinhas, construída em função de sua aparência e
sedução. Isso tem de acabar", diz Nicole Blet, presidente da associação
feminista MFPF da região de Bordeaux.
O assunto movimenta regularmente a sociedade francesa. Pesquisas
realizadas por sites de jornais revelam que a grande maioria da
população é contra concursos infantis de beleza.
Esta não foi a primeira vez que políticos e associações pediram o fim
dos concursos de mini-miss na França. No início do ano, a senadora
Chantal Jouanno, do partido UMP, da direita, entregou ao governo um
relatório de 160 páginas denunciando a "hipersexualização de crianças" e
pedindo a proibição de todos os concursos de beleza na França com
candidatas que tenham menos de 16 ou 18 anos.
Para os críticos, os consursos trazem a "hipersexualização de crianças"
"Essas garotas são fantasiadas em bombons sexuais, elas participam de
uma corrida à aparência, à sedução e ao culto da beleza. Não posso
aceitar esse reinado de futilidade e de instrumentalização das
crianças", afirma a senadora.
Seu relatório também faz recomendações sobre
imagens de meninas veiculadas pela publicidade. Os concursos de beleza
com meninas vêm se multiplicando na França nos últimos anos.
"Miss Princesa" (de 7 a 9 anos), "Miss Rainha" (de 10 a 12 anos),
"Graine de Miss" (Grão de Miss, em tradução literal), desfiles amadores
em vilarejos, com crianças usando maiô e roupas consideradas sexy, são
alguns dos eventos criados no país.
"O concurso julga mais o carisma da criança do que a sua beleza. É um divertimento para as crianças", disse à BBC Brasil Michel Le Parmentier, criador do "Mini-Miss França", que existe há 23 anos e afirma ser a única competição oficial desse tipo.
Em razão da polêmica existente, o comitê do "Mini-Miss" criou uma carta
de ética, um regulamento interno que proíbe maquiagem (apenas baton
transparente e purpurina nos cabelos), e também o uso de salto alto,
maiô e roupas consideradas "inapropriadas".
"Mantivemos o vestido de princesa porque faz parte do espírito desse
tipo de competição", afirma Le Parmentier. As novas regras também
impedem a participação ao concurso de meninas com menos de 7 anos de
idade.
"Essas adaptações não mudam a filosofia desses eventos, que é baseada no
talento de sedução e na competição de aparências", ressalta a senadora
Jouanno.
"A hipersexualização de crianças diz respeito às atividades de manequim,
não os concursos de mini-miss. Concordo que é preciso proibir
publicidades que sexualizam as crianças. É nessa área que a questão
precisa ser regulada", diz Le Parmentier.
Ele ressalta que há exageros nos concursos infantis realizados nos
Estados Unidos, onde crianças chegam a usar dentes e cabelos postiços e
maquiagem pesada.
"Nos Estados Unidos, o concurso caiu em extremos. Não é o caso da
França. As primeiras vencedoras na França têm hoje 30 anos. Elas se
tornaram mães e não estão traumatizadas", diz ele.
No fim de outubro, o comitê inter-ministerial de direitos das mulheres
deverá discutir a questão da imagem das crianças na publicidade. Por
enquanto, o governo não se posicionou sobre a proibição dos concursos de
mini-miss.
http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI6207905-EI8142,00-Concurso+de+minimiss+causa+polemica+na+Franca.html
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