Este blog é um dispositivo para pensarmos sobre questões relativas à corpo, gênero, sexualidade(s), infância(s) em articulação com a Educação. Aqui, estudantes, professor@s e investigador@s podem (e devem) contribuir com a Educação Sexual nas instituições educativas. Participe você também! (Coordenação: Profª Me. Amanda Leite – PPGE/ECO/UFSC)
sexta-feira, 30 de março de 2012
Estudante posa nua em blog e provoca indignação no Egito
Para pensarmos... enquanto algumas pessoas se calam ou silenciam corpos e mentes na fabricaçao de corpos domesticados, outras buscam romper as "normas" na tentativa de se expressar em sociedades preconceituosas e conservadoras...
Tanto conservadores quanto liberais condenaram publicação; nudez é rejeitada pelos egípcios
CAIRO - A estudante universitária de 20 anos Aliaa Magda Elmahdy postou fotos de si mesma nua em seu blog para
protestar contra restrições à liberdade de expressão e provocou
indignação no Egito, sendo condenada tanto por conservadores como por
liberais.
Blog de Aliaa reproduziu várias imagens de nudez na última atualização.
Alguns liberais temiam que a atitude poderia prejudicá-los aos olhos
dos muito conservadores antes das eleições parlamentares de 28 de
novembro em que eles estão concorrendo com partidos fundamentalistas
islâmicos. A nudez é extremamente rejeitada pela sociedade egípcia,
mesmo como uma forma de arte.
Aliaa escreveu em seu blog que as fotos - que mostram a ativista de
pé usando apenas meias - são "gritos contra uma sociedade de violência,
racismo, sexismo, assédio sexual e hipocrisia". O blog já teve 1,5
milhão de acessos desde que ela colocou as fotos no início da semana. As
informações são da Associated Press.
Agradecimento a acadêmica Andressa Proença pela partilha.
quinta-feira, 29 de março de 2012
quarta-feira, 28 de março de 2012
SCOTT MOORE - O SEGUNDO HOMEM GRÁVIDO
O segundo homem “grávido” veio à público nesta quarta-feira (27),
segundo informou a versão online do Daily Mail. Scott Moore, 30 anos,
dará a luz em fevereiro, ao lado do seu esposo, Thomas. Os dois nasceram
mulheres, e realizaram cirurgia para mudança de sexo.
Casados legalmente no estado da California, Scott e Thomas já têm
dois filhos, Gregg, 12 anos e Logan, 10, de casamentos anteriores. O
bebê que esperam é um menino e se chamará Miles. “Sei que algumas
pessoas irão nos criticar, mas estamos muito felizes e não temos
vergonha disso”.
Scott planeja ter o bebê de parto natural em um hospital local. Ele
engravidou através de inseminação artificial com o esperma de um amigo.
Os médicos e obstretas já foram avisados e estão acompanhando a
gravidez. “Nenhuma pessoa grávida pode ter cuidados médicos negados, só
porque é um homem”, disse Scott.
O caso é semelhante ao ocorrido em 2008 com Thomas Beatie, no Oregon
(EUA), que causou comoção mundial ao parir uma menina após ter feito a
cirurgia para se tornar um homem.
Thomas Beatie - o homem grávido
Primeiro "homem grávido" vive feliz com os três filhos mesmo enfrentando preconceito
Thomas Beatie se tornou conhecido como o "primeiro homem grávido" a dar
à luz três filhos. Tudo começou quando sua esposa, Nancy, descobriu que
não poderia ter filhos.
Beatie, que se tornou legalmente homem em 2002, resolveu então gerar as crianças, já que mesmo após a cirurgia de readequação sexual ele manteve os órgãos reprodutivos femininos.
Foi em 2007 que Susan veio ao mundo, a primeira filha do casal. Questionado se a criança saberá sobre os procedimentos de sua gestação, o ex-homem grávido garante que já não é mais segredo. "Há uma foto em que estou grávido. Ela aponta para ela o tempo todo, dizendo: Papai, papai, eu estou dentro e ficando grande, grande. E então tenho que sair", contou ao jornal Daily Mail.
Depois de Susan, vieram mais dois filhos: Austin e Jensen. As crianças, que estudam em uma creche em Phoenix (Arizona, EUA), não sofrem tanto preconceito quanto os pais. Segundo o casal, depois que Beatie ficou grávido, muitos familiares se afastaram e eles receberam até ameaça de morte.
No entanto, a ver pelas fotos, a família de Thomas Beatie é feliz e unida. "Quando Thomas disse que queria ter filhos, eu não poderia recusá-los, nossos filhos são os melhores", declarou Nancy.
Na pagina VIDEOS deste blog disponibilizamos trechos do documentário sobre Thomas.
Veja abaixo as fotos do casal e algumas do momento do parto de Jensen.
Beatie, que se tornou legalmente homem em 2002, resolveu então gerar as crianças, já que mesmo após a cirurgia de readequação sexual ele manteve os órgãos reprodutivos femininos.
Foi em 2007 que Susan veio ao mundo, a primeira filha do casal. Questionado se a criança saberá sobre os procedimentos de sua gestação, o ex-homem grávido garante que já não é mais segredo. "Há uma foto em que estou grávido. Ela aponta para ela o tempo todo, dizendo: Papai, papai, eu estou dentro e ficando grande, grande. E então tenho que sair", contou ao jornal Daily Mail.
Depois de Susan, vieram mais dois filhos: Austin e Jensen. As crianças, que estudam em uma creche em Phoenix (Arizona, EUA), não sofrem tanto preconceito quanto os pais. Segundo o casal, depois que Beatie ficou grávido, muitos familiares se afastaram e eles receberam até ameaça de morte.
No entanto, a ver pelas fotos, a família de Thomas Beatie é feliz e unida. "Quando Thomas disse que queria ter filhos, eu não poderia recusá-los, nossos filhos são os melhores", declarou Nancy.
Na pagina VIDEOS deste blog disponibilizamos trechos do documentário sobre Thomas.
Veja abaixo as fotos do casal e algumas do momento do parto de Jensen.
Concurso de Fotografia - 1ª Semana de Leitura FAED
80 anos de voto feminino no Brasil
José Eustáquio Diniz Alves*
No dia 24 de fevereiro de 2012, o Brasil comemora os 80 anos do
direito de voto feminino. As mulheres passaram a ter o direito de voto
assegurado pelo Decreto nº 21.076, de 24/02/1932, assinado pelo
presidente Getúlio Vargas, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Esta
conquista, porém, não foi gratuita.
A luta pelos direitos políticos das mulheres começou ainda no século XVIII. No início da Revolução Francesa, o Marquês de Condorcet – matemático, filósofo e iluminista – foi uma das primeiras vozes a defender o direito das mulheres. Nos debates da Assembleia Nacional, em 1790, ele protestou contra os políticos que excluíam as mulheres do direito ao voto universal, dizendo o seguinte: “Ou nenhum indivíduo da espécie humana tem verdadeiros direitos, ou todos têm os mesmos; e aquele que vota contra o direito do outro, seja qual for sua religião, cor ou sexo, desde logo abjurou os seus”.
As ondas revolucionárias francesas chegaram na Inglaterra e os escritores progressistas Mary Wollstonecraft – no livro A Vindication of the Rights of Woman (1792) – e William Godwin – no livro An Enquiry Concerning Political Justice (1793) – também defenderam os direitos das mulheres e a construção de uma sociedade democrática, justa, próspera e livre.
Mas a luta pelo direito de voto feminino só se tranformou no movimento sufragista após os escritos de Helen Taylor e John Stuart Mill. O grande economista inglês escreveu o livro The Subjection of Women (1861, e publicado em 1869) em que mostra que a subjugação legal das mulheres é uma discriminação, devendo ser substituída pela igualdade total de direitos.
Com base no pensamento destes escritores pioneiros, o movimento sufragista nasceu para estender o direito de voto (sufrágio) às mulheres. Em 1893, a Nova Zelândia se tornou o primeiro país a garantir o sufrágio feminino, graças ao movimento liderado por Kate Sheppard. Outro marco neste processo foi a fundação, em 1897, da “União Nacional pelo Sufrágio Feminino”, por Millicent Fawcett, na Inglaterra. Após o fim da Primeira Guerra Mundial, as mulheres conquistaram o direito de voto no Reino Unido, em 1918, e nos Estados Unidos, em 1919.
No Brasil, uma líder fundamental foi Bertha Maria Julia Lutz (1894-1976). Bertha Lutz conheceu os movimentos feministas da Europa e dos Estados Unidos nas primeiras décadas do século XX e foi uma das principais responsáveis pela organização do movimento sufragista no Brasil. Ajudou a criar, em 1919, a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher, que foi o embrião da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, criada em 1922 (centenário da Independência do Brasil). Representou o Brasil na assembleia geral da Liga das Mulheres Eleitoras, realizada nos EUA, onde foi eleita vice-presidente da Sociedade Pan-Americana. Após a Revolução de 1930 e dez anos depois da criação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, o movimento sufragista conseguiu a grande vitória no dia 24/02/1932.
A primeira mulher eleita deputada federal foi Carlota Pereira de
Queirós (1892-1982), que tomou posse em 1934 e participou dos trabalhos
da Assembleia Nacional Constituinte. Com a implantação do Estado Novo,
em novembro de 1937, houve o fechamento do Legislativo brasileiro e
grande recuo das liberdades democráticas. Na retomada do processo de
democratização, em 1946, nenhuma mulher foi eleita para a Câmara. Até
1982, o número de mulheres eleitas para o Legislativo brasileiro poderia
ser contado nos dedos da mão.
Somente com o processo de redemocratização, da Nova República, o
número de mulheres começou a aumentar. Foram eleitas 26 deputadas
federais em 1986, 32 em 1994, 42 em 2002 e 45 deputadas em 2006 e 2010.
Mas este número representa apenas 9% dos 513 deputados da Câmara
Federal. No ranking internacional da Inter-Parliamentary Union (IPU), o
Brasil se encontra atualmente no 142º lugar. Em todo o continente
americano, o Brasil perde na participação feminina no Parlamento para
quase todos os países, empata com o Panamá e está à frente apenas do
Haiti e Belize. No mundo, o Brasil perde até para países como Iraque e
Afeganistão, além de estar a uma grande distância de outros países de
lingua portuguesa como Angola, Moçambique e Timor Leste.
Portanto, as mulheres brasileiras conquistaram o direito de voto
em 1932, mas ainda não conseguiram ser representadas adequadamente no
Poder Legislativo. Até 1998 as mulheres eram minoria do eleitorado. A
partir do ano 2000, passaram a ser maioria e, nas últimas eleições, em
2010, já superavam os homens em 5 milhões de pessoas aptas a votar. Este
superávit feminino tende a crescer nas próximas eleições. Contudo
existem dúvidas sobre a possibilidade de as mulheres conseguirem apoio
dos partidos para disputar as eleições em igualdade de condições.
Nas eleições de 2010, a grande novidade foi a eleição da primeira
mulher para a chefia da República. Neste aspecto, o Brasil deu um
grande salto na equidade de gênero, sendo uns dos 20 países do mundo que
possui mulher na chefia do Poder Executivo. Com a alternância de gênero
no Palácio do Planalto, o número de ministras cresceu e aumentou a
presença de mulheres na presidência de empresas e órgãos públicos, como
no IBGE e na Petrobrás.
Nos municípios, as mulheres são, atualmente, menos de 10% das
chefias das prefeituras. Nas Câmaras Municipais as mulheres são cerca de
12% dos vereadores. Mas, em 2012, quando se comemoram os 80 anos do
direito de voto feminino, haverá eleicões municipais. A Lei de Cotas
determina que os partidos inscrevam pelo menos 30% de candidatos de cada
sexo e dê apoio financeiro e espaço no programa eleitoral gratuito para
o sexo minoritário na disputa. Os estudos acadêmicos mostram que, se
houver igualdade de condições na concorrência eleitoral, a desigualdade
de gênero nas eleições municipais poderá ser reduzida.
As mulheres brasileiras já possuem nível de escolaridade maior do
que o dos homens, possuem maior esperança de vida e são maioria da
População Economicamente Ativa (PEA) com mais de 11 anos de estudo. Elas
já avançaram muito em termos sociais e não merecem esperar mais 80 anos
para conseguir igualdade na participação política.
Disponivel em http://www.clam.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?UserActiveTemplate=_BR&infoid=9225&sid=7
*José Eustáquio Diniz Alves é doutor em Demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE)
segunda-feira, 26 de março de 2012
1ª Semana de leitura e leitoras/es na FAED/UDESC
Confira a programção completa aqui!
Shiloh ou John?
O caso abaixo gerou (e gera) polêmicas pelo mundo. Entretanto, nosso interesse aqui é tomá-lo como dispositivo para pensarmos nas identidades de gênero desde a infância.
Quais são os desafios?
Shiloh Jolie-Pitt, de 4 anos, é a primeira filha biológica do casal Angelina Jolie e Brad Pitt.
Angelina Jolie, 35, declarou numa entrevista para a revista americana Vanity Fair, que Shiloh quer ser um menino.
Shiloh é adepta de cabelos
curtinhos e só usa peças do vestuário masculino – como coletes, blazers,
calças de alfaiataria e até gravatas – e prefere brincar com espadas e carrinhos de controle remoto.
”Ela acha que é um dos irmãos”, fala Angelina, que considera a filha muito parecida com ela quando criança. ”Shiloh é extremamente engraçada e falante. É a pessoa mais divertida que você pode conhecer”, comenta a atriz.
Disponivel em: http://www.not1.com.br/filha-de-angelina-jolie-e-brad-pitt/
Agradecimento as acadêmicas: Andressa Proença e Ana Carolina Gil pela proposta de reflexão.
sexta-feira, 23 de março de 2012
Filme: TOMBOY
Super premiado filme francês TOMBOY entra em cartaz no Cinema do CIC nesta sexta-feira dia 23 março.
[ Sessão sexta-feira às 21h30 / Sábado e domingo às 17h00 e 21h30 ]
Veja o Trailer
terça-feira, 20 de março de 2012
sexta-feira, 16 de março de 2012
Pensando em gênero...
O que é um homem? O que é uma mulher?
Ei, você aí. Você, com um pênis no meio das pernas. Você é homem, certo?
Certo?
Eu gostaria de te perguntar: de onde vem essa certeza? O que faz de um homem um homem?
E o que faz de uma mulher uma mulher?
Certo?
Eu gostaria de te perguntar: de onde vem essa certeza? O que faz de um homem um homem?
E o que faz de uma mulher uma mulher?
A primeira resposta costuma ser: o equipamento. O
tal pinto. No meio das pernas. Ou a ausência dele, no caso das
mulheres. Os médicos e os pais olham o bebê, veem certo penduricalho,
marcam um “M” na ficha da criança. Se não tiver penduricalho, marcam
“F”. Hoje dá até pra ver os aparatos antes do nascimento, por meio do
ultrassom.
Mas, se for assim, que fazer com os transexuais? Por exemplo, João Nery,
que fez a primeira cirurgia de troca de sexo para se tornar um homem do
Brasil, em 1977. João nasceu Joana, com uma vagina. Mas não se sentia à
vontade no próprio corpo. Odiava a menstruação, os seios. Na cirurgia
experimental, João teve útero e mamas retiradas e passou a receber
tratamento hormonal. Ele não ganhou um pênis: é muito raro para um
transhomem ganhar um. Dependendo da técnica, a prótese pode não ter
sensibilidade, e a pessoa pode perder a capacidade de sentir orgasmo.
Ele contou sua história no livro Erro de Pessoa, de 1985, e no recente Viagem Solitária, de 2011.
Há também o caso inverso, o das transmulheres. Pessoas que nascem com
pênis, mas não se sentem homens. Como Léa T., a top model transexual
filha do ex-jogador de futebol Toninho Cerezo. Léa, que nasceu Leandro,
ainda não fez a cirurgia, mas pretende.
Podemos pensar: OK, essas pessoas nasceram com o corpo errado; elas têm um “distúrbio”, que pode ser corrigido com cirurgia. Mas, se é esse o caso, o que fazer com Buck Angel?
Buck nasceu Susan, há 43 anos, nos Estados Unidos. Aos poucos, porém,
Susan começou a se transformar em Buck, um transexual FtM
(female-to-male, que mudou de mulher para homem, ou, simplesmente,
transhomem). Buck nunca fez a cirurgia de troca de sexo. Ele se sente
confortável com sua vagina, gosta de usá-la. Buck é um bem-sucedido ator
pornô e é um cowboy – poderíamos chamar de “másculo”, na falta de termo
melhor. Com uma vagina no meio das pernas.
Um Y a mais, um Y a menos
Outras explicações do que faz um homem ou uma mulher também são
biológicas: são os cromossomos, os tais XY. As mulheres têm XX.
Diferença de uma letra, coisa à toa. Mas tudo que foi dito acima, sobre
transexuais, se aplica aqui também.
Há ainda outros casos. Por exemplo, o dos intersexuais, pessoas que
nascem com os dois aparelhos sexuais. Antigamente, eram chamados de
hermafroditas. Uma pessoa com cromossomos XX, por exemplo, mas que tem
tanto aparelho reprodutor masculino como feminino. Ou pessoa com
cromossomos XY, mas que não teve os órgãos externos totalmente
desenvolvidos. Pessoas de sexo ambíguo.
E aí tem a explicação hormonal. Homem que é homem tem mais
testosterona. Mulher que é mulher tem mais estrógeno e progesterona. Os
hormônios são os mesmos – o que varia é a quantidade. Mas é claro que
isso também é individual. Uma mulher atleta, por exemplo, pode ter mais
testosterona que um homem que não pratica esporte.
Ser homem, então, não está ligado a ter um pinto. Ou próstata. Ou
cromossomos XY. Ou mais testosterona. A que está ligado, então?
Roupa de menina
Talvez homem seja aquele que gosta de se vestir como homem. Para as
mulheres, a mesma coisa. Mas aí temos os – e as – travestis, e essa
ideia também cai por terra.
O que a gente veste, afinal, muda com o tempo. Calça comprida já foi
considerada inapropriada para mulheres. Saia ainda é considerada
estranha para homens – mas na Escócia existem os kilts, que são parte da
tradição do país. E o que aconteceria com um homem que se veste de
mulher no Carnaval? Ele torna-se mulher? A mulher que veste terno é
homem? E o modelo Andrej Pejic, tão andrógino que desfila tanto para
marcas masculinas quanto para marcas femininas?
Laerte, @ cartunista, por exemplo, veste-se como mulher. No início,
considerava-se crossdresser, travesti. Hoje, essa percepção mudou, e
Laerte se identifica, de fato, como mulher. Em geral. De vez em quando
vai ao banheiro masculino, de vez em quando ao feminino. Isso cria um
problema para quem vai escrever sobre ele/ela: devemos colocar “o”
Laerte ou “a” Laerte? (Uma opção é usar linguagem inclusiva, como “@” ou
“x” no lugar de “a” ou “o”). Obviamente, não é Laerte que está errad@. É
a língua que está.
Homos, héteros, bis, as
Mais uma hipótese: homens são aqueles que gostam de transar com
mulheres; mulheres, aquelas que gostam de transar com homens. Você já
sabe aonde vou chegar, né? Na homossexualidade. Homens que gostam de
homens, mulheres que gostam de mulheres. Não é questão de gênero. A
pessoa pode mudar de sexo para se tornar um homem gay, por exemplo. Foi o
caso de Adrian Dalton, modelo que nasceu Katherine, com vagina, era lésbica, fez a cirurgia para se tornar homem e hoje se sente atraído por homens.
Claro, ser gay ou hétero não são as únicas opções possíveis. Algumas
pessoas são bissexuais. Outras são assexuais (sim, não gostam ou querem
saber de sexo, e não tem nada de errado nisso).
Outras se recusam a ser chamadas de uma ou outra forma, pois chamar-se
de “bissexual” significaria admitir gostar de pessoas dos dois sexos – o
que implicaria em concordar com a ideia de que gênero e sexo são
binários e ignorar os casos de intersexo, transexualidade etc. E, claro,
já vimos que a coisa não é assim tão simples.
Nem mesmo entre as outras espécies é tão simples. Em sua obra Evolution’s Rainbow,
a bióloga Joan Roughgarden – que nasceu John – mostra que diversas
espécies desafiam a ideia de que, na natureza, a divisão em dois sexos é
a única possível.
Existe muito mais diversidade sexual na natureza do que a gente
aprendeu nas aulas de biologia. “A divisão do sexo entre fêmea ou macho
não é estável nem exclusiva”, diz ela. Muitos peixes, por exemplo,
possuem os dois sexos ao mesmo tempo, enquanto outros passam de machos a
fêmeas – ou vice-versa – ao longo da vida. Algumas espécies de pássaros
têm mais de um tipo de macho, cada um com comportamento diferente.
Caixinhas
Complexo? Pois é. Ninguém disse que era fácil. Estamos falando de gente, afinal.
Nossa sociedade decidiu, em algum momento, dividir as pessoas em dois tipos: homens e mulheres. São caixinhas.
A divisão podia ser entre seres altos e baixos, sardentos e lisos,
pessoas com manchinha de nascença no joelho e pessoas sem manchinha. A
sexualidade seria definida entre quem gosta de pessoas com manchinha e
pessoas que não gostam, por exemplo. Em algumas sociedades, a coisa é
mais fluida: existem as categorias de “masculino” e “feminino”, mas elas
não são fixas. As pessoas podem passar de uma a outra ao longo da vida.
Isso foi descrito por vários antropólogos, como Gregory Bateson, que,
em sua obra Naven, narra as cerimônias rituais em que membros de uma tribo trocam de gênero. Ou Pierre Clastres, que, em A Sociedade Contra o Estado,
fala da tribo brasileira dos guayaki, em que pode-se mudar de gênero ao
se trocar o arco, típico dos homens, por um cesto, típico das mulheres.
Lá também é possível cair em uma maldição e deixar de ser homem, sem,
no entanto, virar mulher. (Os guayaki também são exemplo de tribo
poliândrica, em que as mulheres podem ter mais de um marido ou parceiro,
mas essa é outra história).
Na nossa sociedade, as caixinhas são mais ou menos fixas. A criança
nasce e já se decide qual gênero ela deverá ocupar. E a partir desse
gênero, que comportamento deverá assumir. Rosa para elas, azul para
eles. Algumas crianças se identificam com a caixinha a que foram
destinadas. Como uma mulher que nasce com vagina, sente-se mulher, e
gosta de transar com homens. Ou homem que nasce com pinto, sente-se
homem, gosta de transar com mulheres. Muitas pessoas, porém, não cabem
nessas prateleiras. As pessoas vêm com diversos “equipamentos”, os quais
não significam que serão de determinado gênero, e o gênero não
significa que ela gostará dessas ou daquelas pessoas. É tudo
independente.
Energia masculina e feminina
Ouço falar muito, por exemplo, em “energia masculina” e “energia
feminina”. A primeira seria assertiva, ágil, ativa. A segunda seria
passiva, generosa, receptiva. Ora, essa é uma perspectiva binária. Sim,
existem impulsos mais ativos e mais passivos, mas eu não chamaria isso
de “masculino” ou de “feminino”. Desde crianças, as meninas aprendem a
refrear sua energia ativa. Os meninos, a brecar sua energia passiva.
Qualquer desvio da norma é punido com apelidos e tiração de sarro. A
menina que quer subir em árvore é logo ensinada a comportar-se e ficar
quieta desenhando, enquanto o irmão é incentivado a correr e aprender a
ser menino.
Claro que isso gera conflitos, mesmo entre quem não é gay ou trans.
Eu, por exemplo, nasci mulher, com aparelho reprodutor feminino, e me
identifico como mulher. Até o momento, sou predominantemente hétero. Mas
de vez em quando sinto alguns desconfortos. Quando alguém diz:
“mulheres são mais delicadas” – me lembro dos meus estabacos pela casa,
desastrada. “Mulheres são suaves” – sempre fui mais assertiva. Mulheres
isso, mulheres aquilo. Se ser mulher é ter que caber dentro dessas
definições, danou-se, não sou uma.
Por sorte, Margaret Mead vem em meu auxílio. Em 1935, a antropóloga escreveu o clássico Sexo e Temperamento,
em que descreve três tribos da Nova Guiné, nas quais os comportamentos
das mulheres e dos homens não equivaliam ao que se pensava ser o
“essencial” de cada gênero. Havia uma tribo com mulheres agressivas,
chefes do lar; outra em que tanto homens quanto mulheres eram
agressivos; e uma em que ambos eram delicados, passivos. Ou seja: o que
significa ser homem ou mulher é uma construção histórica, social. E muda
com o tempo.
Não existe o “essencial” feminino ou masculino. Existe o que é feminino ou masculino conforme o contexto, a sociedade.
Simone de Beauvoir, um dos ícones do feminismo, escreveu:
“Não se nasce mulher; torna-se.”
O mesmo pode ser dito dos homens. A pessoa que nasce com vagina
aprende a andar como mulher, a falar como mulher, a se vestir como
mulher. Com sorte, quando crescemos, podemos quebrar tudo isso,
descobrir o que nos serve, o que não nos serve. Vou fazer unha porque
acho divertido, não porque é “coisa de mulher”. O homem tascará um
“foda-se” para a sociedade e irá trabalhar meio período para ficar com
as crianças.
O papo de cada um
E assim, no fim das contas, não dá pra dizer o que é ser mulher e o
que é ser homem. O que vale é a forma como a pessoa se identifica:
homem, mulher, gênero indefinido, terceiro gênero. No fundo, novos
termos como transgênero ou assexual continuam sendo formas de colocar as
pessoas em caixinhas. Aumenta-se o número de caixinhas – não são mais
apenas duas -, mas não se elimina a necessidade delas.
Até porque não dá mesmo pra acabar com elas de repente. Como diz uma
amiga socióloga, só porque as coisas são culturais não significa que
sejam fáceis de mudar. E, enquanto categorias como
homem/mulher/gay/hétero existirem, as pessoas continuarão a ser tratadas
conforme o lugar onde elas se encaixam. O que faz com que a luta pelos
direitos das mulheres, dos gays, dos transgêneros seja fundamental,
mesmo que a gente saiba que essas divisões não servem para explicar o
comportamento humano.
Talvez, no futuro, não seja preciso colocar seres humanos em
caixinhas. Não sei como as pessoas formariam sua identidade sem essas
categorias, como elas passariam a enxergar a si próprias se não houvesse
essa separação de gênero. Mas, por enquanto, se elas pararem de achar
que existe um “papo de homem” e um “papo de mulher”, já estaria de bom
tamanho.
Agradecimento especial a Andressa Proença - acadêmica da 7ª fase de Pedagogia/UDESC pela contribuição e envio desta reportagem!
terça-feira, 13 de março de 2012
Encontro 15/03
Encontro 15/03
Profª Amanda Leite
Texto base: Educação, gênero e sexualidade: entreolhares e problematizações
Unidade 1 (1.2 Abordagens contemporâneas sobre a Educação Sexual)
Texto base: Educação, gênero e sexualidade: entreolhares e problematizações
Unidade 1 (1.2 Abordagens contemporâneas sobre a Educação Sexual)
terça-feira, 6 de março de 2012
segunda-feira, 5 de março de 2012
quinta-feira, 1 de março de 2012
Garoto vitima de homofobia
Garoto vítima de homofobia se suicida em Vitória; pais culpam escola do filho
No último dia 17 de fevereiro um garoto se suicidou na cidade de Vitória por não suportar o bullying homofóbico que sofria na escola. Rolliver de Jesus se enforcou com um cinto da mãe e foi encontrado desacordado pelo pai. Ele chegou a receber socorro, mas não resistiu.
"Eles o chamaram de gay, bicha, gordinho. Às vezes ele ia embora chorando", contou um colega de Rolliver. De acordo com o site "Folha Vitória", o menino deixou uma carta de despedida, onde dizia não entender porque sofria tantas humilhações.
"Eles o chamaram de gay, bicha, gordinho. Às vezes ele ia embora chorando", contou um colega de Rolliver. De acordo com o site "Folha Vitória", o menino deixou uma carta de despedida, onde dizia não entender porque sofria tantas humilhações.
A mãe do garoto, Joselia Ferreira de Jesus, já tinha informado à direção da escola e pedido a transferência dos seus três filhos, mas a escola informou que os irmãos teriam que ser separados e irem cada um para uma escola diferente. A mãe não aceitou a solução. "Eu não tinha denunciado a situação desse meu filho, mas de outro. O Conselho Tutelar também sabia. Eu pedi o remanejamento dos meus três filhos, mas disponibilizaram vagas em escolas diferentes", lamentou a mãe.
Na sexta-feira antes do Carnaval, Rolliver foi animado para a escola, mas crianças e adolescentes fizeram uma roda ao redor do menino, que foi humilhado e empurrado. Chegando em casa, ele cometeu o suicídio.
Na sexta-feira antes do Carnaval, Rolliver foi animado para a escola, mas crianças e adolescentes fizeram uma roda ao redor do menino, que foi humilhado e empurrado. Chegando em casa, ele cometeu o suicídio.
Disponivel em: http://acapa.virgula.uol.com.br/politica/garoto-vitima-de-homofobia-se-suicida-em-vitoria-pais-culpam-escola-do-filho/2/5/15827
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