sexta-feira, 30 de março de 2012

Para conhecimento


> O Globo, 27/03/2012 - Rio de Janeiro RJ
MPF quer permitir crianças com menos de 6 anos no ensino fundamental
Pelas regras do CNE, a criança que não completou 6 anos em 31 de março deveria ser matriculada na pré-escola
Agência Brasil
BRASÍLIA - O Ministério Público Federal em São Paulo (MPF-SP) protocolou ação, hoje (26), na Justiça Federal para permitir que crianças com menos de 6 anos possam ser matriculadas no ensino fundamental. Atualmente, uma resolução do Conselho Nacional de Educação (CNE) define que, para ser matriculado no ensino fundamental, o aluno precisa completar 6 anos até 31 de março. No estado de São Paulo, uma deliberação do Conselho Estadual de Educação estipula o dia 30 de junho como data limite. A ação, que inclui pedido de liminar, quer que a União e o estado de São Paulo reavaliem os critérios de acesso dos alunos ao ensino fundamental. Para o procurador Jefferson Aparecido Dias, o critério da idade “retém o aprendizado infantil e acorrenta o desenvolvimento de crianças aptas a acompanhar a educação escolar”. Ele defende que a restrição é ilegal e incostituicional.

Pelas regras do CNE, a criança que não completou 6 anos em 31 de março deveria ser matriculada na pré-escola. No ano passado, ações semelhantes foram ajuizadas pelo Ministério Público em outros estados. Em Pernambuco, a Justiça Federal acatou o pedido do MPF. O
objetivo da resolução do CNE, aprovada em 2010, é organizar o ingresso dos alunos no ensino fundamental, porque, até então, cada rede de ensino fixava uma regra diferente. O colegiado defendia, à época, que a criança poderia ser prejudicada ao ingressar precocemente no ensino fundamental sem o desenvolvimento intelectual e social necessário à etapa. As decisões do CNE não têm força de lei, mas servem de orientação geral para os sistemas públicos e privados de ensino.

Estudante posa nua em blog e provoca indignação no Egito

Para pensarmos... enquanto algumas pessoas se calam ou silenciam corpos e mentes na fabricaçao de corpos domesticados, outras buscam romper as "normas" na tentativa de se expressar em sociedades preconceituosas e conservadoras...

 

Tanto conservadores quanto liberais condenaram publicação; nudez é rejeitada pelos egípcios

CAIRO - A estudante universitária de 20 anos Aliaa Magda Elmahdy postou fotos de si mesma nua em seu blog para protestar contra restrições à liberdade de expressão e provocou indignação no Egito, sendo condenada tanto por conservadores como por liberais.
Blog de Aliaa reproduziu várias imagens de nudez na última atualização.
Blog de Aliaa reproduziu várias imagens de nudez na última atualização - ReproduçãoAlguns liberais temiam que a atitude poderia prejudicá-los aos olhos dos muito conservadores antes das eleições parlamentares de 28 de novembro em que eles estão concorrendo com partidos fundamentalistas islâmicos. A nudez é extremamente rejeitada pela sociedade egípcia, mesmo como uma forma de arte.
Aliaa escreveu em seu blog que as fotos - que mostram a ativista de pé usando apenas meias - são "gritos contra uma sociedade de violência, racismo, sexismo, assédio sexual e hipocrisia". O blog já teve 1,5 milhão de acessos desde que ela colocou as fotos no início da semana. As informações são da Associated Press.

Agradecimento a acadêmica Andressa Proença pela partilha.

quarta-feira, 28 de março de 2012

SCOTT MOORE - O SEGUNDO HOMEM GRÁVIDO

O segundo homem “grávido” veio à público nesta quarta-feira (27), segundo informou a versão online do Daily Mail. Scott Moore, 30 anos, dará a luz em fevereiro, ao lado do seu esposo, Thomas. Os dois nasceram mulheres, e realizaram cirurgia para mudança de sexo.
Casados legalmente no estado da California, Scott e Thomas já têm dois filhos, Gregg, 12 anos e Logan, 10, de casamentos anteriores. O bebê que esperam é um menino e se chamará Miles. “Sei que algumas pessoas irão nos criticar, mas estamos muito felizes e não temos vergonha disso”.
Scott planeja ter o bebê de parto natural em um hospital local. Ele engravidou através de inseminação artificial com o esperma de um amigo. Os médicos e obstretas já foram avisados e estão acompanhando a gravidez. “Nenhuma pessoa grávida pode ter cuidados médicos negados, só porque é um homem”, disse Scott.
O caso é semelhante ao ocorrido em 2008 com Thomas Beatie, no Oregon (EUA), que causou comoção mundial ao parir uma menina após ter feito a cirurgia para se tornar um homem.

Thomas Beatie - o homem grávido

Primeiro "homem grávido" vive feliz com os três filhos mesmo enfrentando preconceito

Primeiro "homem grávido" vive feliz com os três filhos mesmo enfrentando preconceito Thomas Beatie se tornou conhecido como o "primeiro homem grávido" a dar à luz três filhos. Tudo começou quando sua esposa, Nancy, descobriu que não poderia ter filhos.

Beatie, que se tornou legalmente homem em 2002, resolveu então gerar as crianças, já que mesmo após a cirurgia de readequação sexual ele manteve os órgãos reprodutivos femininos.


Foi em 2007 que Susan veio ao mundo, a primeira filha do casal. Questionado se a criança saberá sobre os procedimentos de sua gestação, o ex-homem grávido garante que já não é mais segredo. "Há uma foto em que estou grávido. Ela aponta para ela o tempo todo, dizendo: Papai, papai, eu estou dentro e ficando grande, grande. E então tenho que sair", contou ao jornal Daily Mail.


Depois de Susan, vieram mais dois filhos: Austin e Jensen. As crianças, que estudam em uma creche em Phoenix (Arizona, EUA), não sofrem tanto preconceito quanto os pais. Segundo o casal, depois que Beatie ficou grávido, muitos familiares se afastaram e eles receberam até ameaça de morte.


No entanto, a ver pelas fotos, a família de Thomas Beatie é feliz e unida. "Quando Thomas disse que queria ter filhos, eu não poderia recusá-los, nossos filhos são os melhores", declarou Nancy.



Na pagina VIDEOS deste blog disponibilizamos trechos do documentário sobre Thomas.

Veja abaixo as fotos do casal e algumas do momento do parto de Jensen.
 
 




 

Concurso de Fotografia - 1ª Semana de Leitura FAED

Veja o edital aqui! 

80 anos de voto feminino no Brasil



José Eustáquio Diniz Alves*



No dia 24 de fevereiro de 2012, o Brasil comemora os 80 anos do direito de voto feminino. As mulheres passaram a ter o direito de voto assegurado pelo Decreto nº 21.076, de 24/02/1932, assinado pelo presidente Getúlio Vargas, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Esta conquista, porém, não foi gratuita.

A luta pelos direitos políticos das mulheres começou ainda no século XVIII. No início da Revolução Francesa, o Marquês de Condorcet – matemático, filósofo e iluminista – foi uma das primeiras vozes a defender o direito das mulheres. Nos debates da Assembleia Nacional, em 1790, ele protestou contra os políticos que excluíam as mulheres do direito ao voto universal, dizendo o seguinte: “Ou nenhum indivíduo da espécie humana tem verdadeiros direitos, ou todos têm os mesmos; e aquele que vota contra o direito do outro, seja qual for sua religião, cor ou sexo, desde logo abjurou os seus”.

As ondas revolucionárias francesas chegaram na Inglaterra e os escritores progressistas Mary Wollstonecraft – no livro A Vindication of the Rights of Woman (1792) – e William Godwin – no livro An Enquiry Concerning Political Justice (1793) – também defenderam os direitos das mulheres e a construção de uma sociedade democrática, justa, próspera e livre.

Mas a luta pelo direito de voto feminino só se tranformou no movimento sufragista após os escritos de Helen Taylor e John Stuart Mill. O grande economista inglês escreveu o livro The Subjection of Women (1861, e publicado em 1869) em que mostra que a subjugação legal das mulheres é uma discriminação, devendo ser substituída pela igualdade total de direitos.

Com base no pensamento destes escritores pioneiros, o movimento sufragista nasceu para estender o direito de voto (sufrágio) às mulheres. Em 1893, a Nova Zelândia se tornou o primeiro país a garantir o sufrágio feminino, graças ao movimento liderado por Kate Sheppard. Outro marco neste processo foi a fundação, em 1897, da “União Nacional pelo Sufrágio Feminino”, por Millicent Fawcett, na Inglaterra. Após o fim da Primeira Guerra Mundial, as mulheres conquistaram o direito de voto no Reino Unido, em 1918, e nos Estados Unidos, em 1919.

No Brasil, uma líder fundamental foi Bertha Maria Julia Lutz (1894-1976). Bertha Lutz conheceu os movimentos feministas da Europa e dos Estados Unidos nas primeiras décadas do século XX e foi uma das principais responsáveis pela organização do movimento sufragista no Brasil. Ajudou a criar, em 1919, a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher, que foi o embrião da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, criada em 1922 (centenário da Independência do Brasil). Representou o Brasil na assembleia geral da Liga das Mulheres Eleitoras, realizada nos EUA, onde foi eleita vice-presidente da Sociedade Pan-Americana. Após a Revolução de 1930 e dez anos depois da criação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, o movimento sufragista conseguiu a grande vitória no dia 24/02/1932.

A primeira mulher eleita deputada federal foi Carlota Pereira de Queirós (1892-1982), que tomou posse em 1934 e participou dos trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte. Com a implantação do Estado Novo, em novembro de 1937, houve o fechamento do Legislativo brasileiro e grande recuo das liberdades democráticas. Na retomada do processo de democratização, em 1946, nenhuma mulher foi eleita para a Câmara. Até 1982, o número de mulheres eleitas para o Legislativo brasileiro poderia ser contado nos dedos da mão.


Somente com o processo de redemocratização, da Nova República, o número de mulheres começou a aumentar. Foram eleitas 26 deputadas federais em 1986, 32 em 1994, 42 em 2002 e 45 deputadas em 2006 e 2010. Mas este número representa apenas 9% dos 513 deputados da Câmara Federal. No ranking internacional da Inter-Parliamentary Union (IPU), o Brasil se encontra atualmente no 142º lugar. Em todo o continente americano, o Brasil perde na participação feminina no Parlamento para quase todos os países, empata com o Panamá e está à frente apenas do Haiti e Belize. No mundo, o Brasil perde até para países como Iraque e Afeganistão, além de estar a uma grande distância de outros países de lingua portuguesa como Angola, Moçambique e Timor Leste.

Portanto, as mulheres brasileiras conquistaram o direito de voto em 1932, mas ainda não conseguiram ser representadas adequadamente no Poder Legislativo. Até 1998 as mulheres eram minoria do eleitorado. A partir do ano 2000, passaram a ser maioria e, nas últimas eleições, em 2010, já superavam os homens em 5 milhões de pessoas aptas a votar. Este superávit feminino tende a crescer nas próximas eleições. Contudo existem dúvidas sobre a possibilidade de as mulheres conseguirem apoio dos partidos para disputar as eleições em igualdade de condições.

Nas eleições de 2010, a grande novidade foi a eleição da primeira mulher para a chefia da República. Neste aspecto, o Brasil deu um grande salto na equidade de gênero, sendo uns dos 20 países do mundo que possui mulher na chefia do Poder Executivo. Com a alternância de gênero no Palácio do Planalto, o número de ministras cresceu e aumentou a presença de mulheres na presidência de empresas e órgãos públicos, como no IBGE e na Petrobrás.


Nos municípios, as mulheres são, atualmente, menos de 10% das chefias das prefeituras. Nas Câmaras Municipais as mulheres são cerca de 12% dos vereadores. Mas, em 2012, quando se comemoram os 80 anos do direito de voto feminino, haverá eleicões municipais. A Lei de Cotas determina que os partidos inscrevam pelo menos 30% de candidatos de cada sexo e dê apoio financeiro e espaço no programa eleitoral gratuito para o sexo minoritário na disputa. Os estudos acadêmicos mostram que, se houver igualdade de condições na concorrência eleitoral, a desigualdade de gênero nas eleições municipais poderá ser reduzida.
As mulheres brasileiras já possuem nível de escolaridade maior do que o dos homens, possuem maior esperança de vida e são maioria da População Economicamente Ativa (PEA) com mais de 11 anos de estudo. Elas já avançaram muito em termos sociais e não merecem esperar mais 80 anos para conseguir igualdade na participação política.


Disponivel em http://www.clam.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?UserActiveTemplate=_BR&infoid=9225&sid=7
 
*José Eustáquio Diniz Alves é doutor em Demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE)

segunda-feira, 26 de março de 2012

1ª Semana de leitura e leitoras/es na FAED/UDESC


Confira a programção completa aqui!

Shiloh ou John?

O caso abaixo gerou (e gera) polêmicas pelo mundo. Entretanto, nosso interesse aqui é tomá-lo como dispositivo para pensarmos nas identidades de gênero desde a infância. 
Quais são os desafios?
 
Shiloh Jolie-Pitt, de 4 anos, é a primeira filha biológica do casal Angelina Jolie e Brad Pitt.
Angelina Jolie, 35, declarou numa entrevista para a revista americana Vanity Fair, que Shiloh quer ser um menino.
Shiloh é adepta de cabelos curtinhos e só usa peças do vestuário masculino – como coletes, blazers, calças de alfaiataria e até gravatas – e prefere brincar com espadas e carrinhos de controle remoto.
”Ela acha que é um dos irmãos”, fala Angelina, que considera a filha muito parecida com ela quando criança. ”Shiloh é extremamente engraçada e falante. É a pessoa mais divertida que você pode conhecer”, comenta a atriz.


Disponivel em: http://www.not1.com.br/filha-de-angelina-jolie-e-brad-pitt/  
Agradecimento as acadêmicas: Andressa Proença e Ana Carolina Gil pela proposta de reflexão.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Filme: TOMBOY

Super premiado filme francês TOMBOY entra em cartaz no Cinema do CIC nesta sexta-feira dia 23 março.  
[ Sessão sexta-feira às 21h30 / Sábado e domingo às 17h00 e 21h30 ]

Veja o Trailer
 

sexta-feira, 16 de março de 2012

Pensando em gênero...

O que é um homem? O que é uma mulher?

Ei, você aí. Você, com um pênis no meio das pernas. Você é homem, certo?
Certo?
Eu gostaria de te perguntar: de onde vem essa certeza? O que faz de um homem um homem?
E o que faz de uma mulher uma mulher?
A primeira resposta costuma ser: o equipamento. O tal pinto. No meio das pernas. Ou a ausência dele, no caso das mulheres. Os médicos e os pais olham o bebê, veem certo penduricalho, marcam um “M” na ficha da criança. Se não tiver penduricalho, marcam “F”. Hoje dá até pra ver os aparatos antes do nascimento, por meio do ultrassom.
Mas, se for assim, que fazer com os transexuais? Por exemplo, João Nery, que fez a primeira cirurgia de troca de sexo para se tornar um homem do Brasil, em 1977. João nasceu Joana, com uma vagina. Mas não se sentia à vontade no próprio corpo. Odiava a menstruação, os seios. Na cirurgia experimental, João teve útero e mamas retiradas e passou a receber tratamento hormonal. Ele não ganhou um pênis: é muito raro para um transhomem ganhar um. Dependendo da técnica, a prótese pode não ter sensibilidade, e a pessoa pode perder a capacidade de sentir orgasmo. Ele contou sua história no livro Erro de Pessoa, de 1985, e no recente Viagem Solitária, de 2011.
Há também o caso inverso, o das transmulheres. Pessoas que nascem com pênis, mas não se sentem homens. Como Léa T., a top model transexual filha do ex-jogador de futebol Toninho Cerezo. Léa, que nasceu Leandro, ainda não fez a cirurgia, mas pretende.
 Podemos pensar: OK, essas pessoas nasceram com o corpo errado; elas têm um “distúrbio”, que pode ser corrigido com cirurgia. Mas, se é esse o caso, o que fazer com Buck Angel? Buck nasceu Susan, há 43 anos, nos Estados Unidos. Aos poucos, porém, Susan começou a se transformar em Buck, um transexual FtM (female-to-male, que mudou de mulher para homem, ou, simplesmente, transhomem). Buck nunca fez a cirurgia de troca de sexo. Ele se sente confortável com sua vagina, gosta de usá-la. Buck é um bem-sucedido ator pornô e é um cowboy – poderíamos chamar de “másculo”, na falta de termo melhor. Com uma vagina no meio das pernas.

Buck Angel já foi Susan. H ou M?

 

Um Y a mais, um Y a menos

Outras explicações do que faz um homem ou uma mulher também são biológicas: são os cromossomos, os tais XY. As mulheres têm XX. Diferença de uma letra, coisa à toa. Mas tudo que foi dito acima, sobre transexuais, se aplica aqui também.
Há ainda outros casos. Por exemplo, o dos intersexuais, pessoas que nascem com os dois aparelhos sexuais. Antigamente, eram chamados de hermafroditas. Uma pessoa com cromossomos XX, por exemplo, mas que tem tanto aparelho reprodutor masculino como feminino. Ou pessoa com cromossomos XY, mas que não teve os órgãos externos totalmente desenvolvidos. Pessoas de sexo ambíguo.
E aí tem a explicação hormonal. Homem que é homem tem mais testosterona. Mulher que é mulher tem mais estrógeno e progesterona. Os hormônios são os mesmos – o que varia é a quantidade. Mas é claro que isso também é individual. Uma mulher atleta, por exemplo, pode ter mais testosterona que um homem que não pratica esporte.
Ser homem, então, não está ligado a ter um pinto. Ou próstata. Ou cromossomos XY. Ou mais testosterona. A que está ligado, então?

 

Roupa de menina

Talvez homem seja aquele que gosta de se vestir como homem. Para as mulheres, a mesma coisa. Mas aí temos os – e as – travestis, e essa ideia também cai por terra.
O que a gente veste, afinal, muda com o tempo. Calça comprida já foi considerada inapropriada para mulheres. Saia ainda é considerada estranha para homens – mas na Escócia existem os kilts, que são parte da tradição do país. E o que aconteceria com um homem que se veste de mulher no Carnaval? Ele torna-se mulher? A mulher que veste terno é homem? E o modelo Andrej Pejic, tão andrógino que desfila tanto para marcas masculinas quanto para marcas femininas?



Laerte, @ cartunista, por exemplo, veste-se como mulher. No início, considerava-se crossdresser, travesti. Hoje, essa percepção mudou, e Laerte se identifica, de fato, como mulher. Em geral. De vez em quando vai ao banheiro masculino, de vez em quando ao feminino. Isso cria um problema para quem vai escrever sobre ele/ela: devemos colocar “o” Laerte ou “a” Laerte? (Uma opção é usar linguagem inclusiva, como “@” ou “x” no lugar de “a” ou “o”). Obviamente, não é Laerte que está errad@. É a língua que está.

 

Homos, héteros, bis, as

Mais uma hipótese: homens são aqueles que gostam de transar com mulheres; mulheres, aquelas que gostam de transar com homens. Você já sabe aonde vou chegar, né? Na homossexualidade. Homens que gostam de homens, mulheres que gostam de mulheres. Não é questão de gênero. A pessoa pode mudar de sexo para se tornar um homem gay, por exemplo. Foi o caso de Adrian Dalton, modelo que nasceu Katherine, com vagina, era lésbica, fez a cirurgia para se tornar homem e hoje se sente atraído por homens.
Claro, ser gay ou hétero não são as únicas opções possíveis. Algumas pessoas são bissexuais. Outras são assexuais (sim, não gostam ou querem saber de sexo, e não tem nada de errado nisso). Outras se recusam a ser chamadas de uma ou outra forma, pois chamar-se de “bissexual” significaria admitir gostar de pessoas dos dois sexos – o que implicaria em concordar com a ideia de que gênero e sexo são binários e ignorar os casos de intersexo, transexualidade etc. E, claro, já vimos que a coisa não é assim tão simples.
Nem mesmo entre as outras espécies é tão simples. Em sua obra Evolution’s Rainbow, a bióloga Joan Roughgarden – que nasceu John – mostra que diversas espécies desafiam a ideia de que, na natureza, a divisão em dois sexos é a única possível.
Existe muito mais diversidade sexual na natureza do que a gente aprendeu nas aulas de biologia. “A divisão do sexo entre fêmea ou macho não é estável nem exclusiva”, diz ela. Muitos peixes, por exemplo, possuem os dois sexos ao mesmo tempo, enquanto outros passam de machos a fêmeas – ou vice-versa – ao longo da vida. Algumas espécies de pássaros têm mais de um tipo de macho, cada um com comportamento diferente.

 

Caixinhas

Complexo? Pois é. Ninguém disse que era fácil. Estamos falando de gente, afinal.
Nossa sociedade decidiu, em algum momento, dividir as pessoas em dois tipos: homens e mulheres. São caixinhas. A divisão podia ser entre seres altos e baixos, sardentos e lisos, pessoas com manchinha de nascença no joelho e pessoas sem manchinha. A sexualidade seria definida entre quem gosta de pessoas com manchinha e pessoas que não gostam, por exemplo. Em algumas sociedades, a coisa é mais fluida: existem as categorias de “masculino” e “feminino”, mas elas não são fixas. As pessoas podem passar de uma a outra ao longo da vida. Isso foi descrito por vários antropólogos, como Gregory Bateson, que, em sua obra Naven, narra as cerimônias rituais em que membros de uma tribo trocam de gênero. Ou Pierre Clastres, que, em A Sociedade Contra o Estado, fala da tribo brasileira dos guayaki, em que pode-se mudar de gênero ao se trocar o arco, típico dos homens, por um cesto, típico das mulheres. Lá também é possível cair em uma maldição e deixar de ser homem, sem, no entanto, virar mulher. (Os guayaki também são exemplo de tribo poliândrica, em que as mulheres podem ter mais de um marido ou parceiro, mas essa é outra história).
Na nossa sociedade, as caixinhas são mais ou menos fixas. A criança nasce e já se decide qual gênero ela deverá ocupar. E a partir desse gênero, que comportamento deverá assumir. Rosa para elas, azul para eles. Algumas crianças se identificam com a caixinha a que foram destinadas. Como uma mulher que nasce com vagina, sente-se mulher, e gosta de transar com homens. Ou homem que nasce com pinto, sente-se homem, gosta de transar com mulheres. Muitas pessoas, porém, não cabem nessas prateleiras. As pessoas vêm com diversos “equipamentos”, os quais não significam que serão de determinado gênero, e o gênero não significa que ela gostará dessas ou daquelas pessoas. É tudo independente.

Laerte pensando "fora da caixinha"

 

Energia masculina e feminina

Ouço falar muito, por exemplo, em “energia masculina” e “energia feminina”. A primeira seria assertiva, ágil, ativa. A segunda seria passiva, generosa, receptiva. Ora, essa é uma perspectiva binária. Sim, existem impulsos mais ativos e mais passivos, mas eu não chamaria isso de “masculino” ou de “feminino”. Desde crianças, as meninas aprendem a refrear sua energia ativa. Os meninos, a brecar sua energia passiva. Qualquer desvio da norma é punido com apelidos e tiração de sarro. A menina que quer subir em árvore é logo ensinada a comportar-se e ficar quieta desenhando, enquanto o irmão é incentivado a correr e aprender a ser menino.
Claro que isso gera conflitos, mesmo entre quem não é gay ou trans. Eu, por exemplo, nasci mulher, com aparelho reprodutor feminino, e me identifico como mulher. Até o momento, sou predominantemente hétero. Mas de vez em quando sinto alguns desconfortos. Quando alguém diz: “mulheres são mais delicadas” – me lembro dos meus estabacos pela casa, desastrada. “Mulheres são suaves” – sempre fui mais assertiva. Mulheres isso, mulheres aquilo. Se ser mulher é ter que caber dentro dessas definições, danou-se, não sou uma.

Azul para eles, rosa para elas
Por sorte, Margaret Mead vem em meu auxílio. Em 1935, a antropóloga escreveu o clássico Sexo e Temperamento, em que descreve três tribos da Nova Guiné, nas quais os comportamentos das mulheres e dos homens não equivaliam ao que se pensava ser o “essencial” de cada gênero. Havia uma tribo com mulheres agressivas, chefes do lar; outra em que tanto homens quanto mulheres eram agressivos; e uma em que ambos eram delicados, passivos. Ou seja: o que significa ser homem ou mulher é uma construção histórica, social. E muda com o tempo.
Não existe o “essencial” feminino ou masculino. Existe o que é feminino ou masculino conforme o contexto, a sociedade.
Simone de Beauvoir, um dos ícones do feminismo, escreveu:
“Não se nasce mulher; torna-se.”
O mesmo pode ser dito dos homens. A pessoa que nasce com vagina aprende a andar como mulher, a falar como mulher, a se vestir como mulher. Com sorte, quando crescemos, podemos quebrar tudo isso, descobrir o que nos serve, o que não nos serve. Vou fazer unha porque acho divertido, não porque é “coisa de mulher”. O homem tascará um “foda-se” para a sociedade e irá trabalhar meio período para ficar com as crianças.

 

O papo de cada um

E assim, no fim das contas, não dá pra dizer o que é ser mulher e o que é ser homem. O que vale é a forma como a pessoa se identifica: homem, mulher, gênero indefinido, terceiro gênero. No fundo, novos termos como transgênero ou assexual continuam sendo formas de colocar as pessoas em caixinhas. Aumenta-se o número de caixinhas – não são mais apenas duas -, mas não se elimina a necessidade delas.
Até porque não dá mesmo pra acabar com elas de repente. Como diz uma amiga socióloga, só porque as coisas são culturais não significa que sejam fáceis de mudar. E, enquanto categorias como homem/mulher/gay/hétero existirem, as pessoas continuarão a ser tratadas conforme o lugar onde elas se encaixam. O que faz com que a luta pelos direitos das mulheres, dos gays, dos transgêneros seja fundamental, mesmo que a gente saiba que essas divisões não servem para explicar o comportamento humano.
Talvez, no futuro, não seja preciso colocar seres humanos em caixinhas. Não sei como as pessoas formariam sua identidade sem essas categorias, como elas passariam a enxergar a si próprias se não houvesse essa separação de gênero. Mas, por enquanto, se elas pararem de achar que existe um “papo de homem” e um “papo de mulher”, já estaria de bom tamanho.


Agradecimento especial a Andressa Proença - acadêmica da 7ª fase de Pedagogia/UDESC pela contribuição e envio desta reportagem!

terça-feira, 13 de março de 2012

Encontro 15/03


 Encontro 15/03
Profª Amanda Leite 
Texto base: Educação, gênero e sexualidade: entreolhares e problematizações 
Unidade 1 (1.2 Abordagens contemporâneas sobre a Educação Sexual)


segunda-feira, 5 de março de 2012

quinta-feira, 1 de março de 2012

Garoto vitima de homofobia

Garoto vítima de homofobia se suicida em Vitória; pais culpam escola do filho


No último dia 17 de fevereiro um garoto se suicidou na cidade de Vitória por não suportar o bullying homofóbico que sofria na escola. Rolliver de Jesus se enforcou com um cinto da mãe e foi encontrado desacordado pelo pai. Ele chegou a receber socorro, mas não resistiu.

"Eles o chamaram de gay, bicha, gordinho. Às vezes ele ia embora chorando", contou um colega de Rolliver. De acordo com o site "Folha Vitória", o menino deixou uma carta de despedida, onde dizia não entender porque sofria tantas humilhações.
Garoto vítima de homofobia se suicida em Vitória; pais culpam escola do filho A mãe do garoto, Joselia Ferreira de Jesus, já tinha informado à direção da escola e pedido a transferência dos seus três filhos, mas a escola informou que os irmãos teriam que ser separados e irem cada um para uma escola diferente. A mãe não aceitou a solução. "Eu não tinha denunciado a situação desse meu filho, mas de outro. O Conselho Tutelar também sabia. Eu pedi o remanejamento dos meus três filhos, mas disponibilizaram vagas em escolas diferentes", lamentou a mãe.

Na sexta-feira antes do Carnaval, Rolliver foi animado para a escola, mas crianças e adolescentes fizeram uma roda ao redor do menino, que foi humilhado e empurrado. Chegando em casa, ele cometeu o suicídio.